domingo, 28 de março de 2010

Via Sacra


Alvorada: 5.30h
Partida de Díli: 6.00h


Chegada a Aileu: 7.45h, tudo preparado para a grande festa


O palco estava já montado.



1.º momento: A Última Ceia


2.º momento: Jesus abençoa o pão e o vinho, e reparte pelos discípulos


3.º momento: o Lava-Pés


4.º momento: Jesus carrega a cruz (aqui, as crianças gritavam "Crucifiquem-no. Soltem Barrabás."


5.º momento: Jesus é açoitado


6.º momento: Jesus cai


7.º momento: Simão carrega a cruz


8.º momento: As vestes de Jesus são-lhe arrancadas


9.º momento: Jesus é crucificado


10.º momento: Jesus morre


11.º momento: Jesus é envolvido em panos e sepultado



A representação terminou com um "Hosana, Jesus ressuscitou". Estavam todos esfomeados. E enquanto os pais recebiam as cadernetas de avaliação, as crianças recebiam a merenda, num gesto de partilha por parte dos pais (cada um trouxe algo).
Houve outros momentos, as fotografias é que não ficaram boas: Verónica enxuga o rosto de Jesus, Judas recebe dinheiro dos sacerdotes, Judas beija o rosto de Jesus.
Uma manhã bastante comovente. Agora só daqui a um mês, porque entrámos em férias. As professoras vão aproveitar este tempo, e seguem para Díli para a semana para duas semanas de formação.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Um país de contradições

Estava aqui sentada no Katuas, numa cadeira almofadada, com a minha música, o meu telemóvel, as chaves do quarto, a beber um cafezito, com o computador à frente, a desfrutar depois de um dia intenso de trabalho... Do outro lado do vidro passa um velho homem, o verdadeiro Katuas; talvez não fosse velho, mas as marcas históricas no rosto revelavam, pelo menos, uma certa vivência. Andava curvado, magro, enrolado a um saco plástico transparente que revelava um corpo semi-nu, com uma gabardine para se proteger da chuva (chove!). Procurava um sítio para dormir. Olhou na minha direcção e eu virei o olhar para o outro lado com vergonha da minha comodidade.
Um país de contradições, às vezes separadas apenas por um vidro!

quinta-feira, 18 de março de 2010

Com o final das chuvas

Domingo foi dia de ir a Aileu.














Anda tudo na azáfama a aproveitar os últimos dias de chuva... Belíssimo! Mas a chuva deixa as suas marcas, e não sei muito bem se da próxima vez que for a Aileu poderei chegar ao destino. Pedaços de troncos no meio da estrada, desabamentos, pedaços de estrada que desapareceram, restos de alcatrão a ceder... como se não bastasse o grau de perigo daquela estrada todo o ano.











Chegados a Aileu, encontramos esta casa desmontada... É uma casa que as manas usavam como armação e que agora estava com menos uma parede. Mas ao entrarmos no ATL, rapidamente percebemos... tinha-se desmontado uma parede para fazer outra. SIM, já temos parede entre a sala da 2.ª infantil e o ATL. Vejam só como ficou bonito.














O pior da história é: desconfio que quando me for embora, a mesma parede que já foi outra parede vai ser usada para fazer outra parede. Não se riam, porque se desconfio, é porque algo semelhante já aconteceu.

Mais à frente, estava o nosso corta-relva... mas não um eléctrico, um tradicional... nomeadamente um cavalo que tinha sido pedido emprestado ao vizinho para ir comer a erva do recreio das crianças. Engenhoso!!

Estamos a chegar ao final do 2.º período e, com ele, a avaliação e a festa final. A manhã foi de grande trabalho e o almoço ficou adiado para as 14.30h. Começámos por trabalhar na avaliação das crianças com base na caderneta do Ministério da Educação à qual finalmente temos direito. Fiquei bastante desiludida, porque está escrita em português. E se até as minhas professoras que têm base do Português tinham dificuldade em compreender, pior vai ser os pais. Exemplo: "Coordenação Grossa". Mas que raio?! pensaram as professoras. Talvez faça a tradução e anexe à cadernenta.
Depois de tudo preparado e com trabalhos-de-casa atribuídos (preencher as cadernetas), passámos à análise da gestão financeira que actualmente está a cargo da D. Lúcia. Tudo certinho... Oúltimo ponto da agenda foi a preparação da festa final que já está em curso... Definitivamente vamos fazer a Via Sacra. Já temos a cruz feita e os papéis distribuídos.
Entretanto, o Nuno avançava com a pintura das portas da escola nova, com o seguinte resultado:














Durante a semana, celebrou-se o dia do Pai (com uma semana de antecipação, devido aos exames). Ao questionarmos as crianças quanto à importância do pai, foi da opinião geral que o pai é melhor que a mãe, porque o pai compra sapatos e doces, enquanto a mãe só ralha.

Mostro-vos o nosso mais recente quadro: "Quantos somos?" que é preenchido todas as manhãs com a contagem dos meninos e das meninas e depois fazendo a soma total. É uma forma de introduzirmos a matemática num contexto real.


Algumas crianças também já vão escrevendo o nome. Ora vejam lá, não é magnífico? Ainda na etapa das cópias, mas não deixa de ser digno de se louvar.

A vida é feita de dias bons e dias maus. E é quando estamos mais melancólicos, que temos maior necessidade de encontrar algo que nos anime. E nesta busca encontramos os sorrisos, as pequenas vitórias, os progressos, as pequenas independências...

quarta-feira, 10 de março de 2010

A vida solitária

Hoje foi um dia mau, tal como têm sido os últimos dias, mas também tenho vindo a aprender muito, e perante estas aprendizagens vejo que ainda tenho muito que aprender sobre a vida. Tem vindo a ser difícil "to cope" com algumas descobertas, o que se deve essencialmente ao meu cansaço.
Mas hoje disseram cruamente: "Acho que só agora estás a descobrir o que é Timor. Estar aqui é viver uma vida solitária. Se achas que és capaz de aceitar esta realidade, então fica!"
Mais tarde, ao sair de um longo dia de trabalho, encontrei uma criança pelo caminho que me sorriu abertamente, totalmente sem medo, sem vergonha. Afinal a vida aqui não é assim tão solitária... (não tenho fotografia da criança porque não levava a máquina, mas ficam outros sorrisos igualmente inspiradores).