terça-feira, 14 de setembro de 2010

Tantas prendas!

(texto sem acentos)
Ida a Aileu com um carro carregadíssimo de presentes para os meninos da Infantil. De facto o Pai Natal parecia que tinha chegado mais cedo... todo o nosso stock de materiais de ginástica (que anteriormente era composto por bolas feitas de jornal e fita-cola castanha, arcos feitos em cartolina enrolados a fita-cola castanha também pk a cartolina tinha umas falhas, cordas feitas de pequenas cordas umas atadas às outras - agora se vê a energia que eu tinha) foi renovado com arcos, bolas, cordas, raquetes, tudo VERDADEIRO! Ah, e uma coisa engraçada, uma espécie de catapulta. Numa ponta põe-se uma bola e pressiona-se com o pé na outra. A bola salta e o objectivo e agarrá-la (para as actividades de motricidade grossa).




Ao subir a montanha, avistava-se o navio Sagres que está de passagem aqui no porto de Díli. O barco seguiu-nos o trajecto pelo mar, nós pela montanha.









Chegados a Aileu, já nos esperavam à porta das salas de aula. Mãos ao trabalho. Enquanto uns arrumavam os novos materiais, outros faziam as limpezas, outros faziam o jogo da memória com relógios ou faziam um dado de números.



















A Lourença mostrou-nos o kiosk que construiu com as criancas, ao qual as criancas deram o nome de Mukit (a semelhanca da loja mais famosa de Aileu). Recortaram uma entrada e uma saida com toldo :) Pintaram e estiveram a fazer teatros (o tema era o dinheiro). Ao contrario do que eu estava a espera, todos reconheciam facilmente as moedas e sabiam o que podiam comprar com cada uma delas.


Com os mais pequeninos, o tema era o desenvolvimento do pinto - desde o ovo ate a galinha/galo. Quiseram ir conhecer a capoeira la das manas e ver as galinhas a chocar. E teimaram que os ovos deviam abrir naquele preciso momento para se certificarem de que a Professora Mafalda tinha explicado tudo correctamente.

A visita ainda se estendeu a casa da D. Lucia para conhecer o Andre - o 7. filho - que mamava e dormia ao mesmo tempo. Agora perguntem-me: "Mas tao agasalhados. Esta frio em Aileu?" Naaaaooo. Estava um calor que nao se podia dentro da casa da D. Lucia. O telhado e de chapa que absorve o calor do sol; e eu sentia aquele calor a imanar do telhado. E eu disse: "D. Lucia, nao tem calor?" (eu via o bebe a suar). E entao explicou-me: "Nao, mana, no primeiro mes nos os dois temos de estar quentinhos." E eu lembrei-me do que ja tinha lido sobre os partos. Dar a luz em tetum diz-se "tuur ahi" que significa "sentar ao fogo" e que se refere tambem ao periodo pos-parto. Na tradicao timorense, apos o parto, a mulher deve manter-se em casa, junto ao calor.


Domingo, e porque era merecido, uma ida a praia. Nao vale invejar...



quinta-feira, 9 de setembro de 2010

A 7.ª chegada

As chegadas são sempre difíceis...

A saída é sempre triste, mesmo que não seja a última, e a aterragem é sempre assustadora, mesmo que não seja a primeira. E mais assustador é ver a pilha de papéis em cima da mesa, acumuladas ao longo do breve espaço de tempo que se está fora.

Timor... de volta à terra dos sonhos...

Aileu... depois de um mês de férias, as aulas começaram. Os mais velhos têm uma nova professora, a Lourença, jovem entusiasta, que irá substituir a D. Lúcia durante um mês (o bebé já nasceu! Mais um rapaz!). Este é o mês dos animais e da nação Timor na comemoração do 11.º aniversário do referendo que deu a independência ao país. De resto, uma nova estrutura para os baloiços, um rato morto dentro de uma caixa de barbies :), uns sacos de arroz que hão-de aparecer, prémios recebidos pela melhor escola na competição de teatro, óptimas aprendizagens e relatos sobre as formações de Agosto, menos uma criança que fugiu para Díli porque a avó lhe batia, o ATL sempre a funcionar independentemente de quem esteja... O sol nasce sempre!




E com toda esta azáfama de início de aulas, começam os carros cheios de coisas boas da Austrália. Desta vez material de ginásio (bolas, arcos, cordas), papel, livros... E ainda a nossa dose de multi-mistura nutritiva vinda de Baucau, graças aos Presentes Solidários.



Embora tenha chegado apenas há 2 semanas, muitas coisas aconteceram. Fui finalmente visitar o amigo Pedro, em Manatuto em Laclubar. Laclubar fica a cerca de 90km de Díli o que nos tomou cerca de 4 horas de viagem. Até Manatuto a estrada é “boa” (boa em comparação com as restantes); tem uma paisagem magnífica porque segue sempre a linha do mar. Chegando a Manatuto, temos de entrar para a montanha. Entre curvas e contra-curvas, a última hora é numa estrada que mistura terra, areia, lama e pedras. No final o corpo está todo dorido, nem o cinto de segurança ampara.


Quando avistámos aquilo que pensámos ser Laclubar, perguntámos quanto tempo faltava. Disseram-nos os locais que ainda tínhamos entre 20 a 40 min pela frente e nós pensámos: “Aqui ninguém tem noção do tempo. É já ali!” Mas o facto é que de facto “é já ali”, mas a verdade é que são mais umas dúzias de curvas e contra-curvas; e não é que tinham razão?

Chegados a Laclubar, depois daquele trajecto terrível, num local onde não há rede telefónica, encontrámos uma acomodação de luxo com os Irmãos S. João de Deus que é onde o Pedro trabalha. Os irmãos estiveram a construir novos espaços para doentes mentais. Com a fotografia seguinte, acho que não preciso de descrever a recepção que tivémos:


Visitámos a clínica para tuberculosos onde o Pedro trabalha, a biblioteca e o ATL orientados pelo grupo e a igreja com uns vitrais que nunca vi em Timor. Os locais acolheram-nos de braços abertos, gente simples mas mais pura. Tivémos direito ainda a um jantar delicioso preparado pela D. Filomena que falava muito bem português.
Os mais aventureiros ainda subiram a montanha que abraça o vale na manhã do dia seguinte.
Uma paragem pelo mercado entusiasmou os que menos frequentam os mercados timorenses: um autêntico parque de estacionamento de cavalos e burros que há algumas horas atrás cavalgavam pelos montes acima e abaixo, trazendo as mercadorias para vender.

Sempre a chuviscar, partimos antes do almoço, ainda a tempo de um mergulho na praia e uma paragem em Manatuto para almoçar uns fritos tradicionais. Do Pedro ficou ainda mais a certeza da dimensão do coração dele. Um ano naquele local não é fácil, por mais belo que seja. E ficou ainda a promessa de que voltaríamos e desta vez para conhecer uma aldeia onde o Pedro também trabalha, a 12 horas de caminho a pé de Laclubar. Não esquecer desta vez as sapatilhas!