A saída é sempre triste, mesmo que não seja a última, e a aterragem é sempre assustadora, mesmo que não seja a primeira. E mais assustador é ver a pilha de papéis em cima da mesa, acumuladas ao longo do breve espaço de tempo que se está fora.
Timor... de volta à terra dos sonhos...
Aileu... depois de um mês de férias, as aulas começaram. Os mais velhos têm uma nova professora, a Lourença, jovem entusiasta, que irá substituir a D. Lúcia durante um mês (o bebé já nasceu! Mais um rapaz!). Este é o mês dos animais e da nação Timor na comemoração do 11.º aniversário do referendo que deu a independência ao país. De resto, uma nova estrutura para os baloiços, um rato morto dentro de uma caixa de barbies :), uns sacos de arroz que hão-de aparecer, prémios recebidos pela melhor escola na competição de teatro, óptimas aprendizagens e relatos sobre as formações de Agosto, menos uma criança que fugiu para Díli porque a avó lhe batia, o ATL sempre a funcionar independentemente de quem esteja... O sol nasce sempre!
E com toda esta azáfama de início de aulas, começam os carros cheios de coisas boas da Austrália. Desta vez material de ginásio (bolas, arcos, cordas), papel, livros... E ainda a nossa dose de multi-mistura nutritiva vinda de Baucau, graças aos Presentes Solidários.
Embora tenha chegado apenas há 2 semanas, muitas coisas aconteceram. Fui finalmente visitar o amigo Pedro, em Manatuto em Laclubar. Laclubar fica a cerca de 90km de Díli o que nos tomou cerca de 4 horas de viagem. Até Manatuto a estrada é “boa” (boa em comparação com as restantes); tem uma paisagem magnífica porque segue sempre a linha do mar. Chegando a Manatuto, temos de entrar para a montanha. Entre curvas e contra-curvas, a última hora é numa estrada que mistura terra, areia, lama e pedras. No final o corpo está todo dorido, nem o cinto de segurança ampara.
Quando avistámos aquilo que pensámos ser Laclubar, perguntámos quanto tempo faltava. Disseram-nos os locais que ainda tínhamos entre 20 a 40 min pela frente e nós pensámos: “Aqui ninguém tem noção do tempo. É já ali!” Mas o facto é que de facto “é já ali”, mas a verdade é que são mais umas dúzias de curvas e contra-curvas; e não é que tinham razão?
Chegados a Laclubar, depois daquele trajecto terrível, num local onde não há rede telefónica, encontrámos uma acomodação de luxo com os Irmãos S. João de Deus que é onde o Pedro trabalha. Os irmãos estiveram a construir novos espaços para doentes mentais. Com a fotografia seguinte, acho que não preciso de descrever a recepção que tivémos:
Visitámos a clínica para tuberculosos onde o Pedro trabalha, a biblioteca e o ATL orientados pelo grupo e a igreja com uns vitrais que nunca vi em Timor. Os locais acolheram-nos de braços abertos, gente simples mas mais pura. Tivémos direito ainda a um jantar delicioso preparado pela D. Filomena que falava muito bem português.
Os mais aventureiros ainda subiram a montanha que abraça o vale na manhã do dia seguinte.
Uma paragem pelo mercado entusiasmou os que menos frequentam os mercados timorenses: um autêntico parque de estacionamento de cavalos e burros que há algumas horas atrás cavalgavam pelos montes acima e abaixo, trazendo as mercadorias para vender.
Sempre a chuviscar, partimos antes do almoço, ainda a tempo de um mergulho na praia e uma paragem em Manatuto para almoçar uns fritos tradicionais. Do Pedro ficou ainda mais a certeza da dimensão do coração dele. Um ano naquele local não é fácil, por mais belo que seja. E ficou ainda a promessa de que voltaríamos e desta vez para conhecer uma aldeia onde o Pedro também trabalha, a 12 horas de caminho a pé de Laclubar. Não esquecer desta vez as sapatilhas!
Sempre a chuviscar, partimos antes do almoço, ainda a tempo de um mergulho na praia e uma paragem em Manatuto para almoçar uns fritos tradicionais. Do Pedro ficou ainda mais a certeza da dimensão do coração dele. Um ano naquele local não é fácil, por mais belo que seja. E ficou ainda a promessa de que voltaríamos e desta vez para conhecer uma aldeia onde o Pedro também trabalha, a 12 horas de caminho a pé de Laclubar. Não esquecer desta vez as sapatilhas!
Clarisse,
ResponderEliminarChega ser frio em Laclubar? Pois a idéia de que se tem de Timor é que o calorão é geral mesmo nas montanhas.
Alfredo
Br
(texto sem acentos)
ResponderEliminarE frio sim. Timor e montanhoso. A costa fica ao nivel do mar e e quente e humida, mas depois e sempre a subir e comeca a arrefecer (claro que nunca chega a arrefecer como nos conhecemos em Portugal). Laclubar e Aileu devem ficar mais ou menos a mesma altitude (900m). Em Aileu ja cheguei a dormir de saco-cama, meias, pijama de Inverno e casaco :)
Na capital, e calor o ano inteiro, a todas as horas, que nem se aguenta...
No dia em que fomos a Laclubar, apeteceu um casaco ao final da tarde, e estava aquela chuvinha miuda. Mas soube bem, porque o ar e puro! e pelo menos respira-se, porque nao tem aquela humidade que nos tira o folego.
Olá mana Clarisse!
ResponderEliminarQue bom ler-te e (re)ver uma realidade que por momentos já foi minha...
Continua com essa força que move tantos corações de admiração a começar pelo meu!
Beijinho grande
Olá Clarisse. Nesye monte que há na praia de Manatuto (última foto) não há uma cuz ? Eu acho que já lá estive em 2006.
ResponderEliminarPode dizer mais alguma coisa sobre os trabalhos destes missionários em Laclubar? As instalações parecem boas e novinhas em folha.
Não foi ver as chamas eternas lá ao pé de Laclubar?
Tem resistido bem à malária e ao dengue ? Grande mulher !!
Abraços
Augusto Lança (em Sines)
Olá Augusto. Espero que esteja tudo bem aí por Portugal.
ResponderEliminarSim, existe a cruz, mas eu ainda não subi até lá em cima.
As instalações dos irmãos são fantásticas. Ainda estão a acabar os últimos detalhes e vão abrir em Janeiro. Será para acolher doentes psiquiátricos. Neste momento estão a equipar os quartos, óptimas condições para os pacientes, fico contente. Eu não acompanho de perto o trabalho dos irmãos, aliás só soube que cá estavam através de um amigo, o Pedro, que lá trabalha voluntariamente como enfermeiro. O trabalho que conheço abrange desde educações para a saúde, centro de saúde para TB e agora secção psiquiátrica; têm também sob responsabilidade a biblioteca e o ATL. Estão 4 voluntários a trabalhar com os irmãos. Sei que funciona também como seminário. (espero não estar a dizer nenhuma mentira). Mas já agora fica a conhecer o blog desse meu amigo Pedro onde ele vai narrando o que por lá faz http:\\caixapostal100.blogspot.com
Olhe, já não vi as chamas, porque a nossa viagem foi mal pensada. Já saímos tarde de Díli, almoç
ámos por Manatuto e acabamos por chegar a Laclubar pelas 16.30. Como estava a chuviscar, ficamos por ali a conhecer. No dia seguinte partimos de manhã, porque eu ainda tinha uma reunião. Mas ficou a vontade de lá voltar.
O dengue ainda não me apanhou, mas a malária sim. Já foi em 2008, aliás foi detectada em Portugal tinha eu acabado de chegar. Mas agora está sempre comigo :) Ossos do ofício!
Como está o seu trabalho?
obrigado por esta tua partilha e por esse teu espirito!!da minha parte, foram muito bons estes breves momentos em que tambem eu pude partilhar convosco um pouco da minha realidade; mais ainda numa semana em que estava sem gerador e sem as habituais companhias - foi um pouco terapeutica a vossa presença:)!
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