segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Até já

O "até já" é sempre difícil quando o "já" é indefinido.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

A nossa horta!

Ontem estive com a Mana Joana... já não falávamos há imenso tempo, desde o tempo em que eu saí de Aileu para Díli e ela para Kupang para estudar.



A Mana Joana é uma "cofundadora" d'As Sementinhas. Foi ela quem me ensinou a usar produtos naturais para fabricar materiais, como tintas, pasta-de-dentes e cola. Andávamos pela estrada fora à procura de materiais para os testarmos em casa.



Uma vez até participámos numa feira de produtos locais!



Ontem, a Mana Joana recordou um episódio que aconteceu logo no início e que já nem me lembrava. Para quem não acompanhou o nosso percurso desde 2008 (o blog só foi lançado em 2009) fica a saber que tínhamos uma horta!!!


A horta foi um projeto ambicioso meu, com objetivos bastante válidos, mas de facto muito ambicioso. Com a horta, pretendia-se: ensinar as crianças a valorizar a terra, envolver os pais na atividade da escola e garantir alguma sustentabilidade à escola para reduzir os custos de alimentação das crianças. Os pais ajudaram-nos a trabalhar inicialmente a terra, e plantávamos e regávamos a horta juntamente com as crianças.


Chegámos a produzir algumas coisas e até as consumimos. Nasceu milho, feijão, feijão-verde, salsa e repolho.

 Tomate
 Repolho
 Cebola
 Milho
Feijão-verde

Como não tínhamos dinheiro, fizemos uma cerca de estacas de mandioca. Não era forte, mas afugentava pelo menos as galinhas.

A terra de Aileu não é muito difícil de cultivar pelo facto de ser muito barrenta. Em muitas alturas do ano não tínhamos água (aqui teríamos também muitas histórias para contar). Basicamente era um trabalho a tempo inteiro e fisicamente cansativo.

Um dia, chego à horta e está uma cabra, toda contente, a comer os feijões. O campo de repolho já tinha marcas de passagem. Esse foi o meu momento de "breakdown" (não consigo encontrar uma palavra em português que defina melhor o meu sentimento). Comecei a chorar. Estava cansada e achei uma injustiça tanto trabalho ter ido por água abaixo apenas porque alguém decidiu que não era necessário amarrar o animal. Sempre com a minha atitude de "ninguém me pisa", agarrei na cabra e fi-la refém. Amarrei-a atrás da minha casa e esperei que o dono viesse à procura dela.

Toda a gente se ria de mim e eu chorava...

Já não me lembro do fim da história, a Mana Joana também não se lembrava, mas penso que o dono veio à procura da cabra e as manas falaram com ele, porque o meu tétum, na altura, era ainda muito rudimentar para uma boa conversa.

Depois da cabra, seguiu-se uma tentativa de reconstrução da cerca e novas plantações, mas também muitas galinhas, porcos e vacas... "Mana, o melhor não é prender os animais. O melhor é não fazer a horta."
A salsa também foi arrancada por acharem que era erva daninha (a salsa timorense não tem cheiro).
Entretanto surgiu a minha ida para Díli e achei que era um peso demasiado grande para as professoras, os pais apareciam apenas de vez em quando e não tínhamos dinheiro para pagar a uma pessoa que só trabalhasse na horta.

O percurso da Casa Aberta às Crianças é rico em histórias iguais a esta. É para mim um privilégio ter uma mala feita de tantas histórias e experiências que me foram moldando como pessoa.