terça-feira, 16 de novembro de 2010

Ami nia dalan naruk ona

Eu, a acordar em cima do joelho, saí de casa a correr e, claro, esqueci-me de metade: nem comprimidos para o enjôo para a viagem, nem máquina fotográfica apesar da D. Lucia me ter telefonado na véspera a pedir para levar máquina, porque tinham feito um espantalho para pormos na nossa horta. Mas eis o meu espanto quando vejo um espantalho.... de papel!!!! Mas que raio?! Ok, espera... espantalho fica... pois na horta... e costuma... claro, chover tendo em conta que estamos na época das chuvas... ora se ele é de papel... Apesar disso, tendo eu ficado incumbida de arranjar um grande plástico para cobrir o espantalho, estava espectacular! Mas na turma da D. Mafalda também só havia umas semi-flores (sim, também uma rica história) COLADAS COM COLA NA PAREDE, apesar de eu ter dito já 30 mil vezes que a cola não é para a parede e terem daquela massa tipo chiclet. “Ah, mana, mas não cola.” “Não cola, então porque é que os trabalhos ao lado estão colados?” O meu plano de repintar a escola ao final de 5 anos foi visivelmente encurtado.
Mas no final, o que eu tenho a dizer é: estou muito orgulhosa delas e prefiro que errem agora enquanto ainda cá estou.
Estavam todas orgulhosas a dizer que toda a gente que lá ia à escola gabava muito e que já havia vários pais a pedirem para inscrever os filhos para o próximo ano lectivo.
Os preparativos para a festa final estavam encaminhados... as mães na cozinha, alguns preferiam dar $2,50 (quem não tivesse emprego) e $5,00 para quem tivesse emprego, hora de início 8 da manhã (5 da manhã alvorada para mim). Dia 27 lá estaremos a concluir o 2.º ano de funcionamento d’As Sementinhas.
O trabalho dos pais na horta também já estava acertado. Só não havia consenso quanto ao que plantar (e eu já filada no milho que é só esperar, que a chuva faz o trabalho todo). Resposta: “Ah mana, já não pode. Plantamos feijão.” E eu, eu a leiga em agricultura: “Não pode como? Mas então estamos a entrar na época das chuvas, o milho precisa de muita água. No ano passado também plantámos em Novembro e tivemos milho em Fevereiro. Não é igual?” “Ah, pois é.” Tenho a sensação que as pessoas não tem muita noção de agricultura, apesar de o terem feito toda a vida. O feijão, por exemplo, não sobrevive a esta época das chuvas, nem a terra é fertil o suficiente e já vai ser o 3.º ano de plantação. (para além de que eu por teimosia jurei que nunca mais haveria de plantar feijão naquela terra enquanto eu cá estivesse, depois das cabras me terem comido os pés).

Mas está um rico trabalho e eu fico a pensar: “Ami nia dalan naruk ona.”

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Cada dia e uma aprendizagem

(texto sem acentos)

D'As Sementinhas nao ha grandes novidades, apenas que a Ines Sopas conseguiu encher duas turmas. A quem contribuiu, um obrigado do tamanho do mundo. A Ines, mais uma vez, agradeco a sua dedicacao.


Nas duas turmas abordamos o tema das profissoes, inicialmente de uma forma generalizada, e pedimos as criancas que dissessem e pintassem aquilo que queriam ser quando fossem grandes. A resposta, como podem ver pelos desenhos, foi "padre" ou "madre". Ja se adivinhava, uma vez que sao os modelos que tem. Mas o mais engracado foi a preparacao destas aulas. Queriamos fazer um jogo de associacoes de objectos as respectivas profissoes (o tema da matematica eram as associacoes). Agora a dificuldade foi arranjar profissoes suficientes que as criancas conhececem. Ora, num pais com uma taxa de desemprego elevada, com postos de trabalho reduzidos as funcoes do estado, como alargar a lista para alem do policia, professor e bombeiro?

E depois os desenhos que encontramos nos livros portugueses: cozinheiros com chapeu de cozinheiro e avental e fogao a gas???? Bombeiros com chapeu e grande casacao vermelho???? Em Aileu???

Ou seja, limitamos a nossa lista ao bombeiro, policia, professor, carpinteiro, padre, cozinheiro (sem chapeu e avental), agricultor e medico.

Achamos tambem importante aproveitar o tema e falar do sistema solar, atraves do astronauta. Sabemos que e muito dificil para estas criancas (se ja o e para as criancas portuguesas), nao so pela sua idade e pela falta de (in)formacao, mas tambem pelo seu contexto cultural em que la em cima estao os ancestrais com os olhos postos em quem esta ca em baixo. No entanto, tentamos simplificar o mais possivel, e limitar aquilo que as criancas de facto pudessem ver da terra, como por ex. a lua.

As criancas fizeram uns pequenos foguetoes (do lado esquerdo da foto a branco), mas depois perguntaram a Lourenca se podiam ir ja a lua com aquilo. A Lourenca ficou um pouco preocupada :) e resolveu fazer um foguetao grande com uma caixa de papelao, reparem nas rodas (hihihi).


Em todas as actividades que fazemos, temos de pensar sempre no impacto da informacao e contrabalancar com as questoes culturais. E importante que saibam que existem outros animais, outras pessoas, mesmo que nao se apercebam da dimensao (tb ainda sao pequenos). Imagino que, quando eu ainda estava permanentemente da escola, no inicio quando os mais pequenos choravam ao verem-me, deviam imaginar que eu era um ET vindo de sei la de onde.

E o mais importante, isto nao e uma escola de criancas, mas tambem de professores e de pessoas (no meu caso). Cada dia e uma aprendizagem!


De resto, dia 8 reuniao de pais porque faltam 3 semanas para o ano lectivo terminar e e necessario preparar a festa, e comecar a trabalhar a terra para a plantacao do milho.