domingo, 29 de março de 2009

Um dia na escola

Aqui vão mais algumas fotografias de alguns momentos que nunca mostrei, acho eu. Para a próxima haverá mais. Estas foram tiradas no último dia da semana de aulas da turma dos pequeninos. Por isso, é dia de avaliação. É engraçado que é no dia de avaliação que aparecem menos crianças. Também é dia de mercado e acima da escola está a ida ao mercado, porque é preciso mais uma mão para levar as compras para casa, mesmo que tenha apenas 4 anos.


Este momento é tempo de avaliação. À quarta e ao sábado fazemos a avaliação do comportamento das crianças, juntamente com elas, com base num painel do comportamento que temos na sala de aula. Os comportamentos são todos discutidos em grupo e pergunta-se sempre a opinião das crianças. Assim, uns aprendem com os outros. É claro que também se discute as coisas boas. Por exemplo, esta semana a educadora escreveu no painel que as crianças sabiam todas escrever a letra L. E eu quis logo verificar, e todos me quiseram mostrar que sabiam, escrevendo na terra com o dedo.

Este é o tempo de descanso em que cada um decide o que quer fazer. Há quem queira brincar com plasticina (e se vocês vissem aqueles olhinhos todos a pedirem-me para levar para casa; se bem que alguns levam sem pedir); outros preferem continuar a estudar as letras e é engraçado vê-los entre eles a dizer “Esta é a letra E” e outro “Não é nada. É o número 3.” Para mim tem sido fantástico aperceber-me destes momentos de aprendizagem individual, algo para a qual eu antes não tinha qualquer sensibilidade. Depois deste momento vem o momento do peixe, que é aquele momento em que eu pego numa criança (no fim, acabam por ser todas porque todas querem) e ponho-na de barriga para baixo no meu ombro e ando pela sala toda a dizer: “Quem quer peixe.” E tenho mais mil e quinhentos miúdos a puxar-me a camisola para ver quando é a vez deles de serem peixe.




Antes de terminar a escola, é momento de agradecer ao Pai do Céu este dia de escola. Olhem para as mãozinhas, parecem (atenção: parecem) uns anjinhos.





Saem da sala e calçam os sapatos para regressarem a casa. Dentro da sala andamos descalços.

quarta-feira, 25 de março de 2009

Eu e a educação



Penso que ainda não vos apresentei a Maria. A Maria tem 6 meses e mora connosco desde que nasceu. A mãe (17 anos) envolveu-se com um homem casado (40 anos). Como os pais a expulsaram de casa, vieram as duas morar aqui. A Maria passou a ser a nova atracção e a Melita começou a sentir que deixou de ser o centro das atenções.A minha vida agora tem passado muito à volta de burocracias. E felizmente tenho estado em contacto mais próximo com a Educação. Então eu tinha ido falar na semana passada com o Chefe de Educação de Aileu para lhe pedir se ele me arranjava as cadernetas de avaliação para a Infantil. E ele diz-me que o Ministério ainda não emitiu nenhumas, que sabe que outra infantil tem, mas que talvez tenham sido eles a fazer, e que não está bem a par disso. Sexta eu tive a tal reunião em Díli com a Irmã Aurora, responsável pela formação de educadores de infância a nível nacional, que vai dar alguma formação às minhas educadoras e que me tem ajudado imenso neste caminho. A Irmã é mesmo de topo, e dirige um Jardim Infantil todo xpto em Díli. E perguntei-lhe logo acerca das cadernetas, ao que ela me responde “Sim, o Ministério já tem. Mas vais falar com a Senhora Gilberta no Ministério da Educação em Díli.” Então lá fui eu ao Ministério da Educação falar com a Sra. Gilberta. Chegada lá, ninguém me sabia dizer quem era a Sra. Gilberta, até que uma alma caridosa mas disse que era no andar de cima. Subo e mais uma vez não encontro ninguém que me possa indicar o caminho. Meto-me por todas as salas, inclusivé na do ministro (como vêem, a segurança é perfeita) até que finalmente encontro alguém que me diz, apontando na direcção: “É já ali.” Mas o “já ali” tanto pode ser na porta ao lado, como no outro lado do corredor. Por isso, andei a bater em todas as portas até encontrar finalmente a porta da Sra. Gilberta. Mandou-me sentar e perguntei-lhe pelas cadernetas. Perguntou-me se a escola estava registada, eu disse que supostamente sim, e disse-me que quem entrega as cadernetas é o Chefe de Educação do distrito da escola, ou seja o Chefe de Educação de Aileu. Ok, volto para Aileu e venho novamente falar com ele. E digo-lhe o que me disseram, que já havia, e que me disseram que era ele que tinha que me dar, ao que ele responde: “Ah, a professora quer aqueles cadernos onde se põem umas cruzes?” E eu a pensar que me pôs às voltas, para no fim me vir dizer que se eu tivesse dito “cadernos para pôr cruzes”, provavelmente eu não teria andado às voltas por Díli.Depois pergunta-me: “Sabe quantos alunos tem na 2.ª infantil? É que quem termina a infantil recebe um certificado.” (Com 5 anos já se recebe um certificado?). Eu disse-lhe que não tinha bem a certeza, mas que depois lhe diria, ao que ele me responde: “Ah, não faz mal. Nós também estamos 2 anos atrasados, por isso as crianças que estão na 2.ª classe ainda não receberam.” Perguntei-lhe ainda se tinha mesmo registado a infantil, uma vez que eu não me lembrava de alguma vez me ter perguntado o nome. E ele: “Ah, por acaso na semana passada (olha se eu não tivesse ido lá) o Ministério ligou para cá a perguntar o nome completo da professora e para confirmar o nome da escola.”
Conseguimos um bom apoio material de uma organização americana, se quiserem podem consultar o site www.kindyBoxes.com para verem o que é. Conseguimos também um bom apoio de material didáctico da ONG CARE. Na próxima semana as duas educadoras vão para uma semana de formação em Díli, e eu vou ficar sozinha com os miúdos (vai ser bonito). Vai ser a semana da Páscoa, por isso vamos ter ovinhos da Páscoa escondidos no recreio e a representação da última Ceia com o lava-pés e a partilha do pão. Depois são duas semanas de férias.
E aqui vão mais algumas fotos dos meus meninos. Eles merecem, porque hoje disseram que gostavam mais da professora "malae" :)



sábado, 21 de março de 2009

Ao final de 2 semanas

Já cá estou há 2 semanas... e que duas semanas. Já posso dizer que no dia em que cheguei a Aileu (sábado) fui internada no hospital com uma crise renal. As dores começaram ao final da tarde e achei que podia ser um mau jeito. Fui tomar banho ainda com dores (cada x mais fortes) e comecei a vomitar. A Avó (a australiana) viu-me e disse-lhe para me levar ao hospital. Por sorte estava cá o condutor da mana Lu com o camião e assim chegamos ao hospital rapidamente. Mandaram-me esperar (embora eu continuasse a contorcer-me toda e a vomitar) e finalmente deram-me uma cama. Perguntaram as perguntas do costume e disseram que iam buscar uma injecção. Passados 10 minutos de gritos e inquietudes, chegou a médica cubana que me disse: “Vou buscar a injecção.” Mais 10 minutos de aflição em que eu só dizia à Avó que queria morrer. Passados 5 minutos chegou um enfermeiro que me disse: “A injecção já aí vem.” (deixem-me referir que devia ser 20h e que eu era a única paciente no hospital, sendo que estavam presentes 3 enfermeiros, 1 médica e um cão). Comecei então a gritar muito alto das dores, até que finalmente a injecção veio que demorou mais 5 minutos a ser preparada e foi injectada um pouco ao lado pelo que me fez gritar ainda mais, mas aliviou as dores ligeiramente durante 5 minutos para voltar a sentir dores no seu auge, pelo que me puseram a soro misturado com qualquer coisa que eu vi a porem. A partir daí fiquei um pouco grogue e não me lembro de muita coisa. Lembro-me de acordar várias vezes durante a noite com dores e de me terem vindo lavar de manhã. Sei que esteve lá muita gente a ver-me mas só me lembro de sombras. Eram 2h da tarde de domingo quando acordei sem dores. Queriam levar-me para Díli, mas havia duas pessoas em estado muito grave que entretanto deram entrada no hospital, uma mulher com um aborto e uma criança com malária num estado avançado. Como não estava a sentir dores, pedi para ir para casa. E assim foi.... No meio houve muitas visitas, e acho que posso afirmar que com 3 internamentos, o hospital tinha 50 visitantes ao mesmo tempo mais os cães, ao ponto de eu ter dado um berro e ter mandado toda a gente calar-se, e alguns decidiram sair. No momento da entrega dos medicamentos, foi engraçado. Vieram entregar-me dois plásticos, um com paracetamol, o outro eu perguntei o que era e disseram-me com hesitação que era para as dores. Eu disse que não precisava paracetamol porque já tinha em casa, então o enfermeiro pegou nos dois medicamentos e levou para dentro. Passado algum tempo, chega outra enfermeira com um medicamento diferente na mão e diz-me para tomar. Eu pergunto se é para tomar com paracetamol (já que era diferente), ela hesita e diz que sim. Sei que as manas é que ficaram com os medicamentos e já em casa vi que me tinham dado 3 medicamentos diferentes. Tenho bebido muita água e às vezes sinto uma ligeira impressão nos rins, mas não são dores. Só sei que nunca conheci dores piores do que esta.O trabalho... Tenho passado um pouco os dias com reuniões e a preparar materiais auxiliares de ensino. Comecei com as aulas de informática às educadoras da infantil. Passo cerca de 1 hora na infantil por dia para poder fazer a análise do que se passa para abordar alguns aspectos ainda a melhorar nas nossas reuniões de trabalho. Para os miúdos têm sido uma festa e agora sinto que já nenhuma criança tem medo de mim, por isso já nenhuma me respeita, em vez disso só me saltam em cima “Professora, leva-me ao colo, atira-me ao ar, leva-me às cavalitas...”.Já meti as mãos à horta, mas desta vez de luvas (mesmo assim tenho uma bolha). Estou a preparar o terreno para plantar milho.O ATL estava um pouco parado quando cheguei, por isso foi necessário dar-lhe um pouco de corda. Um dos educadores não pôde continuar o trabalho (mas em vez de me avisar, não, simplesmente deixou de vir como se não tivesse qualquer responsabilidade). Temos um novo educador, muito tímido, vamos ver como ele se aguenta. Já faltou à primeira reunião de trabalho. Embora não seja desculpa, vou pensar que devido à chuva naquele dia, ele não pôde vir. Quando eu cheguei, 1/3 da sala do ATL tinha sido convertida em quarto (sentido de aproveitamento). Entretanto já desmanchamos aquilo. Porque é que não conseguem manter as coisas como está?Esta semana também foi continuar o curso que o Rui começou no ano passado com as estudantes do ISMAIK: curso de informática. Sim, eu sei, não sou a pessoa mais indicada, mas para aquilo que elas precisam de saber, acho que estou à altura.Tirando umas reuniões, às quais a malta falta, está tudo a correr bem. Agora, se falarmos de comida...Quanto aos animais, já sei que todos querem saber daquela cabra que comeu os feijões. Penso que deve ter ido para o prato de alguém (felizmente), porque não a voltei a ver. A ratagem tem andado sossegada, às vezes aparece um ou outro, mas não vem para ficar (há quem diga que como ainda há comida nas hortas, eles não vêm procurar em casa). Experimentei a ratoeira que o meu avô me deu, mas ainda não apanhei nenhum. Os mosquitos é que estão em força, devido ao excesso de água acumulada. Hoje vim a Díli para uma reunião e vou ficar cá durante o fim-de-semana.

quarta-feira, 11 de março de 2009

Os primeiros dias

Já cá estou há quase uma semana. Em determinada perspectiva parece que nunca daqui saí. No entanto, há outra, a mais cruel, que me faz perceber que de facto me ausentei durante 2 meses. O que é que não acontece em 2 meses? Deixem-me explicar: a sala do ATL foi convertida em quarto para alugar, os dois motores da bomba de água misteriosamente avariaram, um dos baloiços do recreio partiu-se, os carros da infantil estragaram-se, a minha bacia de lavar a roupa foi transformada em balde para transportar terra, os dois cocos para tirar a água da casa-de-banho desapareceram juntamente com o balde para tomar banho, a sala de arrumos do G.A.S.Porto foi transformada em quarto pelo que tiveram de mover todos os caixotes para partes incertas (ainda há caixas por encontrar) depois de os terem abertos (já vi por aí o meu detergente a ser usado)... deve haver ainda mais algumas transformações que ainda não me dei conta.Devo dizer que estou bastante surpreendida com o andamento do Jardim Infantil. Sinto mesmo os meus meninos diferentes, mais despertos, já sabem as letras AEIOUSTB e contar até 10 em tétum e português. Cantam músicas em tétum e português, e sinto-os muito mais sossegados e menos traquinas. Já não pedem para ir à casa-de-banho de 5 em 5 minutos. Até se esquecem (por isso, hoje tivemos mais um pequeno "acidente"). Rui (Perafita), não sei se estás a ler, mas devo dizer-te que os miúdos adoraram aqueles brinquedos que me deste, principalmente aqueles barulhentos. Então esta semana o tema é AS PLANTAS e estávamos a ler uma história sobre uma árvore e eu pergunto: “As árvores são grandes como o quê?” E uma: “Como o nariz da professora malae (estrangeira).” Risota total. Ah, o Mickey e a Nina (os caracóis da infantil, lembram-se?) morreram durante as férias do Natal (à fome), por isso adoptaram-se mais 3 caracóis enormes. A sério, nunca vi tal.Fiquei um pouco assustada quando vi a nossa horta: estava um matagal. Até que fiquei a saber que já tinham sido as colheitas. Este ano houve muita chuva que estragou as plantações de milho e feijão. A nossa horta foi das que deu mais milho (embora pouco). O que significa que, estando o milho na base da refeição dos timorenses, o preço vai subir e haverá muita fome. As cenouras, ervilha, alface, couves e feijão morreram. Conseguimos algum feijão-verde que foi adicionado ao leite das crianças. O milho vai ser usado para plantar outra vez agora em Abril. Por isso, já arregacei as mangas e pus mão à enxada para preparar a terra. E é claro que já tenho as habituais bolhas.A chuva continua e, com ela, os mosquitos. Logo na minha primeira manhã acordei com uma aranha gigante na parede. Ainda vim cá fora ver se alguém podia matá-la, mas estava toda a gente ocupada e tive de ser mesmo eu :s Com a chuva vêm também as lesmas que me deixaram um rasto a toda a volta do meu mosquiteiro que me ilumina durante a noite.

sexta-feira, 6 de março de 2009

Chegada

Cheguei a Dili hoje, pela quarta vez. A chover, mas uma temperatura que nao se pode... aliada a humidade.
Em 2 meses, pouco mudou. Parece que estao a fazer o Código Penal, os táxis estão mais baratos e os produtos de loja aumentaram de preço. De resto, continua tudo como estava há 2 meses atrás.
Amanha vou para casa, para Aileu. E bom chegar e assentar.
E estranho estar aqui sozinha...
O meu número é o mesmo do ano passado...

segunda-feira, 2 de março de 2009

Como foi...

Este fim-de-semana decorreu a tal exposição sobre os projectos do G.A.S.Porto em Timor no Bar da Paróquia de Perafita. Graças ao grande apoio do Pe. Mateus, do Grupo de Jovens de Perafita e comunidade, passámos uns dias bem agradáveis ao som de ritmos timorenses, ao mesmo tempo que conseguimos recolher alguns fundos para Timor.
OBRIGADO PERAFITA!



Em trabalhos...


Oferta de chá de gengibre e café de Timor


Venda de produtos artesanais de Timor