domingo, 12 de dezembro de 2010

Ratos 10 - Clarisse 5

Sabem aquela imagem de desenho animado em que uma caixa com água tem um furo e vai lá uma pessoa e tapa o buraco, mas começa a sair água por outro buraco e tapa-se com outra mão, e depois mais outro furo e mais outro, até que já não há mãos, nem pés que consigam tapar os furos? Pois, é assim que eu me sinto com a sala da 2.ª Infantil, constantemente a tapar buracos e hoje só vejo uma solução: destruir tudo e montar de novo.

Vamos lá recapitular: a sala da 2.ª infantil e ATL estão num velho edifício que pertencia às manas do ISMAIK. Não tinha tecto, não tinha vidro nas janelas, não tinha portas.... Para conseguirmos mais uma sala para a Infantil, reabilitei a sala em dezembro do ano passado. Portas novas, tecto falso (que fico um "rico" serviço), uma parede parcial improvisada (para criar duas salas), novas pinturas... Dado o orçamento limitado, havia outras condições a terem de ser cumpridas nomeadamente:

(1) as portas que ligam a uns quartos do lado do ATL estarem sempre fechadas

(2) não chover

(3) o tanque da casa-de-banho colada à parede da parte da infantil estar vazio

No entanto:
- relativamente a (1), as manas deixam as portas sempre abertas e estão sempre a utilizá-las. Desta forma, os ratos entram por estes quartos, roem os plásticos e as redes das janelas, roem a parede parcial, roem os brinquedos, roem os cabos da televisão e do DVD do ATL, passam por cima da parede parcial e passam para a infantil, etc. etc. (já nos estragaram um armário, à conta disto). Ou seja, aqueles "coelhos" conseguem estragar tudo, roer tudo. Não podemos pôr rede mais forte, pk a madeira é de tão má qualidade que nenhum parafuso fica preso e, de qualquer forma, os ratos roem a madeira.

- relativamente a (2), apesar do platfond, a água entra pelo telhado e pelos plásticos que foram roídos pelos ratos.

- relativamente a (3), apesar de eu ter comprado um bidão para armazenar a água da casa-de-banho e ter dito 30 mil vezes que o tanque não é para ser usado, de inclusivamente termos esvaziado o tanque e enchido o bidão, ontem deparei com o tanque cheio de água e o bidão ao lado vazio. (Mas porquê é que eu gasto dinheiro????)

São demasiadas batalhas.... Algumas fotografias do estado actual:

A tal parede ligada ao tanque da casa-de-banho, com verdete já.


A tentarmos pôr uma rede metálica, mas em vão porque o plafond é de uma madeira péssima, e os ratos roem de qualquer forma a madeira da parede

A água que entra pelo plafond.


A madeira das paredes está a ceder e a água entra.

Não tenho fotos do estado das janelas. Há três soluções:


(1) As manas cederem-me duas salas do Centro de Formação (onde está a sala da 1.ª infantil), em vez de as alugarem para outros objectivos! Está fora de questão.


(2) Continuar a tentar tapar mais buracos, ou seja, pôr platfond nos quartos que ligam ao ATL, pôr telhado novo, pôr vidro nas janelas.


(3) Construir um edifício novo, com duas salas, 4x4 m cada sala. E onde é que eu tenho o dinheiro pa isso?


Estava mesmo frustrada ontem. Mas mesmo antes de regressar a Díli, estava a dizer à mana da casa-de-banho e de quantos problemas tinha aquela sala, e queixas e queixas. E depois entrei com ela na cozinha, olhei à volta e pensei para mim: "Ela não faz a mínima ideia do que eu estou a falar." Para quem conhece a cozinha de Aileu sabe do que falo; para quem não conhece, aqui fica uma foto:


sábado, 4 de dezembro de 2010

O final do 2.º ano

Comemorámos no dia 27 de Novembro, o 2.º ano de funcionamento d'As Sementinhas! Da minha parte, foi uma grande conquista e um motivo de orgulho! Quando cheguei a Aileu (hora oficial de início da festa: 9h. Hora real: 10.15h), estavam todos em grande azáfama: as professoras, as crianças e as mães, como se segue:
As professoras nos últimos preparativos das fatiotas.



As crianças nas mafarriquices.

Na cozinha, as mães preparavam o almoço conjunto.

Nós decidimos pôr mão à obra e preparar as capas dos desenhos das crianças, as últimas assinaturas....


As crianças faziam os últimos ensaios para o teatro dos três porquinhos.


A sala da festa tinha sido decorada pelas professoras com uma árvore de Natal, balões, fitas e este cartaz de recepção aos convidados "Jardim Infantil As Sementinhas. Sejam todos bem-vindos."


A Lourença ficou responsável pelo protocolo (qualquer actividade em Timor tem um protocolo). Começou-se pelos discursos (o meu, o do ISMAIK, o de um representante dos pais da 1.ª infantil e o de um representante dos pais da 2.ª infantil). Seguiu-se o teatro das crianças sobre o Nascimento de Jesus:

O Anjo, Maria e José

Os pastores dormem e são acordados por um anjo.


Os Reis Magos vêm adorar o Menino.


Houve também a dramatização dos três porquinhos (neste momento, a lente da minha máquina pifou), seguido de músicas de Natal.

Os pais (leia-se as mães) decidiram fazer um bolo em forma de livro aberto para os finalistas (ou seja, os da 2.ª infantil). Fizemos o corte do bolo (eu, a professora da 2.ª infantil, o representante dos pais da 2.ª infantil, a Nerta que veio comigo de Díli e a mana Joana do ISMAIK.


Para terminar, foram entregues os certificados, os boletins de avaliação e os cadernos e pastas, antes de irmos almoçar.

As Sementinhas termina assim mais um ano e deseja a todos um Bom Natal, e um "Até para o ano".



O novo ano lectivo vai iniciar a 10 de Janeiro de 2011.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Ami nia dalan naruk ona

Eu, a acordar em cima do joelho, saí de casa a correr e, claro, esqueci-me de metade: nem comprimidos para o enjôo para a viagem, nem máquina fotográfica apesar da D. Lucia me ter telefonado na véspera a pedir para levar máquina, porque tinham feito um espantalho para pormos na nossa horta. Mas eis o meu espanto quando vejo um espantalho.... de papel!!!! Mas que raio?! Ok, espera... espantalho fica... pois na horta... e costuma... claro, chover tendo em conta que estamos na época das chuvas... ora se ele é de papel... Apesar disso, tendo eu ficado incumbida de arranjar um grande plástico para cobrir o espantalho, estava espectacular! Mas na turma da D. Mafalda também só havia umas semi-flores (sim, também uma rica história) COLADAS COM COLA NA PAREDE, apesar de eu ter dito já 30 mil vezes que a cola não é para a parede e terem daquela massa tipo chiclet. “Ah, mana, mas não cola.” “Não cola, então porque é que os trabalhos ao lado estão colados?” O meu plano de repintar a escola ao final de 5 anos foi visivelmente encurtado.
Mas no final, o que eu tenho a dizer é: estou muito orgulhosa delas e prefiro que errem agora enquanto ainda cá estou.
Estavam todas orgulhosas a dizer que toda a gente que lá ia à escola gabava muito e que já havia vários pais a pedirem para inscrever os filhos para o próximo ano lectivo.
Os preparativos para a festa final estavam encaminhados... as mães na cozinha, alguns preferiam dar $2,50 (quem não tivesse emprego) e $5,00 para quem tivesse emprego, hora de início 8 da manhã (5 da manhã alvorada para mim). Dia 27 lá estaremos a concluir o 2.º ano de funcionamento d’As Sementinhas.
O trabalho dos pais na horta também já estava acertado. Só não havia consenso quanto ao que plantar (e eu já filada no milho que é só esperar, que a chuva faz o trabalho todo). Resposta: “Ah mana, já não pode. Plantamos feijão.” E eu, eu a leiga em agricultura: “Não pode como? Mas então estamos a entrar na época das chuvas, o milho precisa de muita água. No ano passado também plantámos em Novembro e tivemos milho em Fevereiro. Não é igual?” “Ah, pois é.” Tenho a sensação que as pessoas não tem muita noção de agricultura, apesar de o terem feito toda a vida. O feijão, por exemplo, não sobrevive a esta época das chuvas, nem a terra é fertil o suficiente e já vai ser o 3.º ano de plantação. (para além de que eu por teimosia jurei que nunca mais haveria de plantar feijão naquela terra enquanto eu cá estivesse, depois das cabras me terem comido os pés).

Mas está um rico trabalho e eu fico a pensar: “Ami nia dalan naruk ona.”

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Cada dia e uma aprendizagem

(texto sem acentos)

D'As Sementinhas nao ha grandes novidades, apenas que a Ines Sopas conseguiu encher duas turmas. A quem contribuiu, um obrigado do tamanho do mundo. A Ines, mais uma vez, agradeco a sua dedicacao.


Nas duas turmas abordamos o tema das profissoes, inicialmente de uma forma generalizada, e pedimos as criancas que dissessem e pintassem aquilo que queriam ser quando fossem grandes. A resposta, como podem ver pelos desenhos, foi "padre" ou "madre". Ja se adivinhava, uma vez que sao os modelos que tem. Mas o mais engracado foi a preparacao destas aulas. Queriamos fazer um jogo de associacoes de objectos as respectivas profissoes (o tema da matematica eram as associacoes). Agora a dificuldade foi arranjar profissoes suficientes que as criancas conhececem. Ora, num pais com uma taxa de desemprego elevada, com postos de trabalho reduzidos as funcoes do estado, como alargar a lista para alem do policia, professor e bombeiro?

E depois os desenhos que encontramos nos livros portugueses: cozinheiros com chapeu de cozinheiro e avental e fogao a gas???? Bombeiros com chapeu e grande casacao vermelho???? Em Aileu???

Ou seja, limitamos a nossa lista ao bombeiro, policia, professor, carpinteiro, padre, cozinheiro (sem chapeu e avental), agricultor e medico.

Achamos tambem importante aproveitar o tema e falar do sistema solar, atraves do astronauta. Sabemos que e muito dificil para estas criancas (se ja o e para as criancas portuguesas), nao so pela sua idade e pela falta de (in)formacao, mas tambem pelo seu contexto cultural em que la em cima estao os ancestrais com os olhos postos em quem esta ca em baixo. No entanto, tentamos simplificar o mais possivel, e limitar aquilo que as criancas de facto pudessem ver da terra, como por ex. a lua.

As criancas fizeram uns pequenos foguetoes (do lado esquerdo da foto a branco), mas depois perguntaram a Lourenca se podiam ir ja a lua com aquilo. A Lourenca ficou um pouco preocupada :) e resolveu fazer um foguetao grande com uma caixa de papelao, reparem nas rodas (hihihi).


Em todas as actividades que fazemos, temos de pensar sempre no impacto da informacao e contrabalancar com as questoes culturais. E importante que saibam que existem outros animais, outras pessoas, mesmo que nao se apercebam da dimensao (tb ainda sao pequenos). Imagino que, quando eu ainda estava permanentemente da escola, no inicio quando os mais pequenos choravam ao verem-me, deviam imaginar que eu era um ET vindo de sei la de onde.

E o mais importante, isto nao e uma escola de criancas, mas tambem de professores e de pessoas (no meu caso). Cada dia e uma aprendizagem!


De resto, dia 8 reuniao de pais porque faltam 3 semanas para o ano lectivo terminar e e necessario preparar a festa, e comecar a trabalhar a terra para a plantacao do milho.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Obrigado Inês! Participa, mundo!

A Inês Sopas é uma super madrinha do G.A.S.Porto e uma entusiasta da pasta do açúcar ao mesmo tempo. A Inês quer ajudar o nosso Jardim As Sementinhas e, por conseguinte, está a organizar um workshop de bonecos em pasta de açúcar, aproveitando agora a época do Natal. O tema será o Presépio. Haverá um preço de inscrição que reverterá totalmente a favor d'As Sementinhas. A Inês vai fazer dois cursos e se as turmas encherem, As Sementinhas vão ter dinheiro para a alimentação das crianças no próximo ano lectivo (Janeiro a Nov 2011). Precisamos APENAS de 685eur para
- 27 sacos de arroz de 30kg
- 144 embalagens de mistura nutritiva de 250g
- 18 garrafas de óleo+sal
Aqui vão as informações sobre o curso:

Data e horário: 20 de Novembro de 2010 das 14:30 às 18:30
Local : Faculdade de Engenharia do Porto–Sala do G.A.S Porto
Custo do curso : 35 sementinhas
Nº máximo de participantes :10
Inscrições e informações : Inês Sopas; inessopas@gmail.com ou Susana Nunes (pelo G.A.S.Porto) susanacnunes@gmail.com

Metodologia
Execução individual das figuras do presépio, tendo por base um presépio já elaborado e usando os moldes que serão fornecidos
No final do curso haverá um espaço de convívio onde será provado um bolo de chocolate, com receita normalmente usada em bolos decorados, em que poderá consultar os diferentes livros e revistas de bolos decorados, disponibilizados pelo formador, nomeadamente alusivos à época natalícia
Documentos fornecidos a cada formando
. Listagem de todo o equipamento/matéria prima necessária e com a informação onde podem ser adquiridos
. Moldes da roupa das figuras do presépio e quantidades de massa por cada figura
. CD com quatro Power Points explicativos da execução de outras figuras humanas
Equipamento a trazer pelo formando
• Faca pequena e afiada
• Rolo da massa pequeno ( se não possuir um, informar aquando da inscrição)

Já não é a primeira vez que a Inês promove um curso destes a favor de um projecto do G.A.S.Porto. Vejam em http://www.crescerdemaosdadas.blogspot.com/

Podem entrar em contacto comigo para mais informações!!!!

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Mais visitantes


Este deve ser o Jardim-de-Infancia mais visitado de Timor. Desta vez, tivemos a visita da Nerta e do Helder, professores da Escola Portuguesa de Dili. E claro que participaram nos nossos trabalhos. Com o carro carregado de arroz para as criancas, la fomos nos montanha acima.

A segunda Infantil tinha uma sala de desenhos pendurados. Tinham ja passado pelo tema dos animais em que falaram sobre o desenvolvimento da borboleta e ate pintaram umas folhas e usaram o furador para simular que a lagarta tinha passado por ali e comido. O tema seguinte foi Timor (dado o 30 de Agosto) e estiveram a pintar bandeiras e a fazer tais em papel (ja expliquei 30 mil vezes que os nomes das criancas nao se escrevem no meio do papel, mas sim num canto ou no verso, mas... ja desisti). A Lourenca tem feito um optimo trabalho.














A saida, ja eram quase 3 horas, os meninos do ATL vieram-se despedir a porta. Neste dia, como a Lourenca estava em reuniao comigo, a Beatriz tomou conta da sala.








Fizemos ainda a tradicional visita ao crocodilo de Aileu (nao, nao e de borracha, e tambem nao anda na rua, esta preso), seguida do tambem tradicional almoco na Tia Silvina.

sábado, 2 de outubro de 2010

Mediação

No âmbito do projecto para o qual trabalho em Díli, fomos esta segunda para Metinaro assistir a uma mediação feita por mediadores treinados por nós. Seria uma coisa em grande, dado que o conflito era entre dois sucos (tipo o nosso município, mas a um nível mais pequeno). Tinham aberto um furo de água na fronteira entre os dois sucos, mas apenas um usufruia da água. O objectivo era a reconciliação entre os dois sucos e a decisão de ambos os sucos usufruirem do furo.

A mediação iria ter lugar num local público, de forma a que as comunidades de ambos os sucos pudessem assistir. À chegada, um grupo de ferik (=velhas), katuas (=velhos) e crianças dançavam ao som dos gongues e tambores. Havia tendas montadas, o palco das pessoas importantes e o sinal da nossa presença naquele local: os cartazes do nosso projecto a explicar o que é a mediação.


Na cozinha improvisada atrás da sede do suco, os homens preparavam os animais para o banquete para depois da mediação, em sinal de comunhão. As mulheres trabalhavam ao lume.


Apesar de termos chegado já 30 min atrasados, ainda esperámos mais 1h30 para que começasse (o normal) e, antes de chegarmos à mediação propriamente dita, ainda tivemos de ouvir o Comandante das Forças Armadas a falar, o Administrador do Sub-distrito de Díli, a representante de uma ONG, mais... etc.




Finalmente a mediação. Os representantes de cada suco colocaram-se frente a frente e os mediadores no centro. Cada parte em conflicto expôs a sua visão da situação e, com a ajuda dos mediadores, chegaram à reconciliação e à assinatura do acordo em como se mantiriam fiéis ao falado durante a resolução do conflito. No final, falaram os Lia Nains (fotografia com os trajes). O Lia Nain é um membro da comunidade que, a nível da justiça local, se não é a pessoa mais importante, é pelo menos uma delas. Lia Nain, que se traduz por "o dono da palavra", é aquele que todos ouvem e respeitam. Para muitos, o Lia Nain é a única autoridade existente a nível comunitário, nem mesmo o chefe de aldeia ou de suco ou o padre ou a polícia tem tanta autoridade como ele. Neste dia, os Lia Nains, um de cada suco, falaram sobre as sanções em caso de incumprimento do acordo:

- pagamento de um búfalo no valor de $500, ou

- serviço comunitário durante 80 dias

Toda a gente se calou em sinal de respeito e também de curiosidade. Falavam Galoli, o dialecto local. A única palavra que compreendemos foi um "obrigadu" no final.


Partimos logo após o almoço, mas sabemos que a festa durou até ao dia seguinte de manhã.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Tantas prendas!

(texto sem acentos)
Ida a Aileu com um carro carregadíssimo de presentes para os meninos da Infantil. De facto o Pai Natal parecia que tinha chegado mais cedo... todo o nosso stock de materiais de ginástica (que anteriormente era composto por bolas feitas de jornal e fita-cola castanha, arcos feitos em cartolina enrolados a fita-cola castanha também pk a cartolina tinha umas falhas, cordas feitas de pequenas cordas umas atadas às outras - agora se vê a energia que eu tinha) foi renovado com arcos, bolas, cordas, raquetes, tudo VERDADEIRO! Ah, e uma coisa engraçada, uma espécie de catapulta. Numa ponta põe-se uma bola e pressiona-se com o pé na outra. A bola salta e o objectivo e agarrá-la (para as actividades de motricidade grossa).




Ao subir a montanha, avistava-se o navio Sagres que está de passagem aqui no porto de Díli. O barco seguiu-nos o trajecto pelo mar, nós pela montanha.









Chegados a Aileu, já nos esperavam à porta das salas de aula. Mãos ao trabalho. Enquanto uns arrumavam os novos materiais, outros faziam as limpezas, outros faziam o jogo da memória com relógios ou faziam um dado de números.



















A Lourença mostrou-nos o kiosk que construiu com as criancas, ao qual as criancas deram o nome de Mukit (a semelhanca da loja mais famosa de Aileu). Recortaram uma entrada e uma saida com toldo :) Pintaram e estiveram a fazer teatros (o tema era o dinheiro). Ao contrario do que eu estava a espera, todos reconheciam facilmente as moedas e sabiam o que podiam comprar com cada uma delas.


Com os mais pequeninos, o tema era o desenvolvimento do pinto - desde o ovo ate a galinha/galo. Quiseram ir conhecer a capoeira la das manas e ver as galinhas a chocar. E teimaram que os ovos deviam abrir naquele preciso momento para se certificarem de que a Professora Mafalda tinha explicado tudo correctamente.

A visita ainda se estendeu a casa da D. Lucia para conhecer o Andre - o 7. filho - que mamava e dormia ao mesmo tempo. Agora perguntem-me: "Mas tao agasalhados. Esta frio em Aileu?" Naaaaooo. Estava um calor que nao se podia dentro da casa da D. Lucia. O telhado e de chapa que absorve o calor do sol; e eu sentia aquele calor a imanar do telhado. E eu disse: "D. Lucia, nao tem calor?" (eu via o bebe a suar). E entao explicou-me: "Nao, mana, no primeiro mes nos os dois temos de estar quentinhos." E eu lembrei-me do que ja tinha lido sobre os partos. Dar a luz em tetum diz-se "tuur ahi" que significa "sentar ao fogo" e que se refere tambem ao periodo pos-parto. Na tradicao timorense, apos o parto, a mulher deve manter-se em casa, junto ao calor.


Domingo, e porque era merecido, uma ida a praia. Nao vale invejar...



quinta-feira, 9 de setembro de 2010

A 7.ª chegada

As chegadas são sempre difíceis...

A saída é sempre triste, mesmo que não seja a última, e a aterragem é sempre assustadora, mesmo que não seja a primeira. E mais assustador é ver a pilha de papéis em cima da mesa, acumuladas ao longo do breve espaço de tempo que se está fora.

Timor... de volta à terra dos sonhos...

Aileu... depois de um mês de férias, as aulas começaram. Os mais velhos têm uma nova professora, a Lourença, jovem entusiasta, que irá substituir a D. Lúcia durante um mês (o bebé já nasceu! Mais um rapaz!). Este é o mês dos animais e da nação Timor na comemoração do 11.º aniversário do referendo que deu a independência ao país. De resto, uma nova estrutura para os baloiços, um rato morto dentro de uma caixa de barbies :), uns sacos de arroz que hão-de aparecer, prémios recebidos pela melhor escola na competição de teatro, óptimas aprendizagens e relatos sobre as formações de Agosto, menos uma criança que fugiu para Díli porque a avó lhe batia, o ATL sempre a funcionar independentemente de quem esteja... O sol nasce sempre!




E com toda esta azáfama de início de aulas, começam os carros cheios de coisas boas da Austrália. Desta vez material de ginásio (bolas, arcos, cordas), papel, livros... E ainda a nossa dose de multi-mistura nutritiva vinda de Baucau, graças aos Presentes Solidários.



Embora tenha chegado apenas há 2 semanas, muitas coisas aconteceram. Fui finalmente visitar o amigo Pedro, em Manatuto em Laclubar. Laclubar fica a cerca de 90km de Díli o que nos tomou cerca de 4 horas de viagem. Até Manatuto a estrada é “boa” (boa em comparação com as restantes); tem uma paisagem magnífica porque segue sempre a linha do mar. Chegando a Manatuto, temos de entrar para a montanha. Entre curvas e contra-curvas, a última hora é numa estrada que mistura terra, areia, lama e pedras. No final o corpo está todo dorido, nem o cinto de segurança ampara.


Quando avistámos aquilo que pensámos ser Laclubar, perguntámos quanto tempo faltava. Disseram-nos os locais que ainda tínhamos entre 20 a 40 min pela frente e nós pensámos: “Aqui ninguém tem noção do tempo. É já ali!” Mas o facto é que de facto “é já ali”, mas a verdade é que são mais umas dúzias de curvas e contra-curvas; e não é que tinham razão?

Chegados a Laclubar, depois daquele trajecto terrível, num local onde não há rede telefónica, encontrámos uma acomodação de luxo com os Irmãos S. João de Deus que é onde o Pedro trabalha. Os irmãos estiveram a construir novos espaços para doentes mentais. Com a fotografia seguinte, acho que não preciso de descrever a recepção que tivémos:


Visitámos a clínica para tuberculosos onde o Pedro trabalha, a biblioteca e o ATL orientados pelo grupo e a igreja com uns vitrais que nunca vi em Timor. Os locais acolheram-nos de braços abertos, gente simples mas mais pura. Tivémos direito ainda a um jantar delicioso preparado pela D. Filomena que falava muito bem português.
Os mais aventureiros ainda subiram a montanha que abraça o vale na manhã do dia seguinte.
Uma paragem pelo mercado entusiasmou os que menos frequentam os mercados timorenses: um autêntico parque de estacionamento de cavalos e burros que há algumas horas atrás cavalgavam pelos montes acima e abaixo, trazendo as mercadorias para vender.

Sempre a chuviscar, partimos antes do almoço, ainda a tempo de um mergulho na praia e uma paragem em Manatuto para almoçar uns fritos tradicionais. Do Pedro ficou ainda mais a certeza da dimensão do coração dele. Um ano naquele local não é fácil, por mais belo que seja. E ficou ainda a promessa de que voltaríamos e desta vez para conhecer uma aldeia onde o Pedro também trabalha, a 12 horas de caminho a pé de Laclubar. Não esquecer desta vez as sapatilhas!