sábado, 2 de outubro de 2010

Mediação

No âmbito do projecto para o qual trabalho em Díli, fomos esta segunda para Metinaro assistir a uma mediação feita por mediadores treinados por nós. Seria uma coisa em grande, dado que o conflito era entre dois sucos (tipo o nosso município, mas a um nível mais pequeno). Tinham aberto um furo de água na fronteira entre os dois sucos, mas apenas um usufruia da água. O objectivo era a reconciliação entre os dois sucos e a decisão de ambos os sucos usufruirem do furo.

A mediação iria ter lugar num local público, de forma a que as comunidades de ambos os sucos pudessem assistir. À chegada, um grupo de ferik (=velhas), katuas (=velhos) e crianças dançavam ao som dos gongues e tambores. Havia tendas montadas, o palco das pessoas importantes e o sinal da nossa presença naquele local: os cartazes do nosso projecto a explicar o que é a mediação.


Na cozinha improvisada atrás da sede do suco, os homens preparavam os animais para o banquete para depois da mediação, em sinal de comunhão. As mulheres trabalhavam ao lume.


Apesar de termos chegado já 30 min atrasados, ainda esperámos mais 1h30 para que começasse (o normal) e, antes de chegarmos à mediação propriamente dita, ainda tivemos de ouvir o Comandante das Forças Armadas a falar, o Administrador do Sub-distrito de Díli, a representante de uma ONG, mais... etc.




Finalmente a mediação. Os representantes de cada suco colocaram-se frente a frente e os mediadores no centro. Cada parte em conflicto expôs a sua visão da situação e, com a ajuda dos mediadores, chegaram à reconciliação e à assinatura do acordo em como se mantiriam fiéis ao falado durante a resolução do conflito. No final, falaram os Lia Nains (fotografia com os trajes). O Lia Nain é um membro da comunidade que, a nível da justiça local, se não é a pessoa mais importante, é pelo menos uma delas. Lia Nain, que se traduz por "o dono da palavra", é aquele que todos ouvem e respeitam. Para muitos, o Lia Nain é a única autoridade existente a nível comunitário, nem mesmo o chefe de aldeia ou de suco ou o padre ou a polícia tem tanta autoridade como ele. Neste dia, os Lia Nains, um de cada suco, falaram sobre as sanções em caso de incumprimento do acordo:

- pagamento de um búfalo no valor de $500, ou

- serviço comunitário durante 80 dias

Toda a gente se calou em sinal de respeito e também de curiosidade. Falavam Galoli, o dialecto local. A única palavra que compreendemos foi um "obrigadu" no final.


Partimos logo após o almoço, mas sabemos que a festa durou até ao dia seguinte de manhã.

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