segunda-feira, 29 de junho de 2009

Bons Kinders

(acho que toda a gente deve saber menos eu. Mas caso haja alguém que não saiba que se clicar nas fotos duas vezes elas são mostradas no tamanho original, aqui fica a indicação)
Acho que não contei a história da cobra em tecido com areia dentro, para tapar a fenda entre a porta e o chão do meu quarto. Pois é, a cobra morreu.... roída. Por quem? Ora adivinhem lá? Agora tenho capas de CD, fita isoladora e espuma... vamos ver até quando isto dura.
Esta noite estive com a Melita a fazer contas (que anda na nossa infantil). “Ó professora, como se escreve EMA?” E eu: “Ora pensa lá. E-M-A." “Ah, já sei.” E lá escreveu. E eu a pensar que de facto tenho a melhor infantil.
Os nossos meninos da infantil foram convidados a fazer a sessão de abertura de um Mini Mundo Perdido que veio para Aileu. Que delícia! Foram o encanto de todos. O próprio administrador disse que tinham a melhor pronúncia portuguesa, e já foram convidados para outra coisa qualquer. Estavam todos contentes, até porque, segundo eles, comeram carne. E este foi o ponto mais importante. Disseram até que não se importavam de ir cantar outra vez para comerem bem. Lá vestiram o seu uniforme, olhem só para eles! Levavam o programa de cantar “Escola G.A.S.Porto”, “Tic Tac”, “Cabelo, cabeça...” e ainda fizeram um discurso de boas-vindas. E melhor... nunca foram tão bem comportados como neste dia.
No ATL tivemos a pintar paredes... Sim, aquela parede era mesmo feia... e eles passaram uma tarde bem agradável a pô-la bonita. Vamos ver se conseguimos dar a estes meninos um espaço mais agradável daqui a algum tempo.

E para finalizar... uma aventura. Lá vinha eu hoje de manhã, a caminho de Díli, na angguna, literalmente no meio das couves (à segunda os agricultores vêm para Díli vender os produtos), um gelo que não se podia, sem espaço para mexer um dedo mindinho, as costas doridas de bater contra os ferros ao passar nos buracos, o habitual (nenhuma angguna parte sem estar verdadeiramente cheia). Como já não havia espaço para as couves dentro da angguna decidiram pendurar as restantes da parte de fora do carro. O senhor que estava ao meu lado (é que fico sempre sentada ao lado dos mesmos) começa a vomitar, mas para o lado da estrada, onde estavam as couves. Ou seja, acho que não preciso de explicar o que aconteceu às couves. Quando a viagem acabou, pegaram num raminho de folhas secas para limpar e assim foram postas no mercado à venda.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Financiadores precisam-se

Mais um Kinder. Reparei que no nosso centro de estudos faltava uma lâmpada exterior. E eu, preocupada, virei-me para uma das manas e disse: "Mana, acho que nos andam a roubar lâmpadas." Ela, também preocupada, vem comigo ver. Depois diz-me: "Ah, mana, nós quando nos falha uma lâmpada lá em casa, vimos cá buscar ao centro." É que eu já nem sei porque é que me espanto, é que não sei mesmo... O problema é que eu também uso aquele espaço.

Alguém tem DVD da Rua Sésamo em português? É que ando cá com uma ideia de fazer visionamento de DVD educativos aos domingos de manhã (há luz até às 12h). E já agora, há alguém que tenha um leitor de DVD que não precise? (tínhamos um lá em casa, mas também foram tiradas peças para fazer não sei o quê).

Ando a projectar também a reabilitação do espaço do ATL (que está muito estragado) e dividi-lo em dois, fazendo uma segunda sala para a Infantil (urgente!) e outra para o ATL. Para além de chover lá dentro, há o problema das galinhas que põem lá ovos, dos ratos que vão lá morrer, dos cães que fazem necessidades...

Financiadores precisam-se!

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Actualizações

Desde que chegaram estas roupas, colares, sapatos, carteiras, que, principalmente as meninas, nunca mais quiseram mais nada. Vestem-se assim e depois dizem-me "Professora, nós vamos para Dili trabalhar como a professora." Acho interessante esta perspectiva...

É claro que já me andam a "massacrar" a cabeça a perguntar quando vão outra vez passear.


Devo também reportar que os meus meninos, de ambas as classes, já sabem o alfabeto todo. E já aprenderam o sinal mais. Digam lá se esta não é a melhor escola que já viram? Reparem na atenção... quase se matam para virem ao quadro mostrar a todos que já sabem escrever.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Sexta-feira

Hoje é sexta-feira.... dia de limpeza nas ruas de Díli. Qualquer carro é parado e os passageiros têm de limpar o que está à volta. Nenhum ministério trabalha à sexta de manhã para ir limpar. Inclusivé o Presidente. Isto, das 7 às 9 da manhã. Tolerância de ponto até às 14h, para descansar. Desde Maio...

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Dia Internacional da Criança

(eu queria pôr mais fotos, mas é tão complicado aqui no blogue)
Eu queria dedicar uma só entrada no blogue ao dia mais especial que tive após 1 ano e 5 meses em Timor: o Dia Internacional da Criança. Já andava a falar-vos disto há muito, muito tempo, porque de facto a excitação instalou-se em Aileu desde que tive a confirmação de transporte gratuito para levar as crianças a Díli (em Abril). Mas tudo tem uma história: o meu plano era levar 35 crianças + 5 acompanhantes a Díli. Tínhamos um camião e alimentação também garantida. Tínhamos fardas (uma saia vermelha para as meninas e um lenço amarelo para os rapazes) e um cartão de identificação para cada criança com o meu número de telefone (não fosse algum se perder). As crianças andavam em histeria. Duas semanas antes do dia, juntei-me com as professoras para fazer a lista das crianças que tinham confirmado. Chegadas ao final da lista, uma delas diz-me: “Mas mana, ainda falta o pai do..., e a mãe do..., e a irmã da...” Resumidamente, mais 17 pessoas para meter no camião. E é claro que um camião só não chegava, mas rapidamente a IOM resolveu o problema. No domingo foi o dia todo na mesma tarefa, nem fui à missa... aproveitar a luz (ao domingo, como é dia de missa, há luz até às 12) para ferver os 52 litros de água (26 para levar para Díli e 26 para o resto da semana), virá-los para garrafas e identificá-las com os nomes das crianças. Dia 1 de Junho, às 7 da manhã começaram a chegar as primeiras crianças... e os acompanhantes... ao ponto de eu já nem conseguir identificar as crianças. Às oito estava eu na Timor Telecom para ir buscar as caixas do almoço e esperar os camiões. Chegados ao ISMAIK, era preciso meter toda a gente nos camiões... quais cintos de segurança... foi tudo ao molhe. Connosco ia uma saca com os brinquedos e outra com mudas de roupa e sacos de plástico. Tudo parecia correr bem quando... começou o primeiro vómito, e depois o segundo, e o terceiro e o quarto e o.... (daí os sacos de plástico), até todos adormecerem. Chegados a Díli, ainda meios zonzos da viagem, fomos para o mercado Lama para a exposição de dinossauros. Sentamo-nos na relva para a nossa merenda: um pão e uma tangerina. Expliquei que não podiam sair da beira das professoras, expliquei porquê, mas qual quê. Estava tudo anestesiado por verem tantos táxis, tanto barulho. Tentámos, atenção, tentámos dar um número a cada criança para depois seguirem em filinha, sem largarem as mãos até ao centro de exposições. Mas é claro que as distracções eram tantas que quais números, quais mãos... Enfim, chegados ao centro, estava lá uma infantil de Díli, todos organizadinhos, de mãos dadas, em filinha, nem se mexiam. Os meus... grande balbúrdia, para fazer uma roda foi o que foi. Enfim... era impossível não se notar que não éramos da “grande cidade”. Cantámos, dançámos, e ainda fizemos máscaras de dinossauros. Havia duas maquetes de dinossauros e fósseis, mas pela cara deles vi que lhes estava a fazer muita confusão, como é que aqueles animais existiram... Saídos do centro (agora um pouco mais organizados) era horas de ir à banhoca. Volta a meter tudo nos camiões. O passeio até à praia foi uma delícia que até me vieram as lágrimas aos olhos... tudo de boca aberta, tantas motas tantos carros. E quando chegamos à beira mar... o mar, tanta água, os barcos dos quais tanto tinham ouvido falar. Aqui já ninguém vomitou. Chegados à praia, os mais atrevidos lançaram-se logo à areia, tocaram nela e viram como era macia. Os mesmos quiseram logo tirar a roupa e irem para a água. Os mais tímidos ficaram pelo passadiço até verem que os colegas se divertiam tanto na água. Todos foram, todos chapinharam a professora. Às tantas, estava eu na água, quando uma das crianças me diz: "Professora, a Eliana está a fazer cocó." A Eliana estava também na água, a poucos metros de mim. Foi preciso dizer para saírem da água. Já eram 2 horas. Sentamo-nos todos na praia para almoçar. Mas ainda faltava uma última surpresa... os doces esperavam pelas crianças no meu escritório em Díli. Chegamos lá, juntamos as crianças no jardim do edifício enquanto foram chamar os big bosses. Às tantas vejo uma criança a baixar as calças mesmo na relvinha do jardim do escritório. E eu: "Antonia, não podes fazer aqui." E ela: "Estava só a brincar." E o big boss a ver. Cantaram umas musiquinhas e tiveram direito a um chupa-chupa. Estavam estoirados, as fardas já tinham ficado para trás. Estava na hora de regressar a casa, com mais vómitos pelo caminho. Foi um dia em cheio.
Foi um dia muito feliz... pelo menos, para mim. E eu só tenho de agradecer às pessoas que tornaram este dia possível. Se essas pudessem ver o que eu vi em cada olhar... Não tem preço.