Eu queria dedicar uma só entrada no blogue ao dia mais especial que tive após 1 ano e 5 meses em Timor: o Dia Internacional da Criança. Já andava a falar-vos disto há muito, muito tempo, porque de facto a excitação instalou-se em Aileu desde que tive a confirmação de transporte gratuito para levar as crianças a Díli (em Abril). Mas tudo tem uma história: o meu plano era levar 35 crianças + 5 acompanhantes a Díli. Tínhamos um camião e alimentação também garantida. Tínhamos fardas (uma saia vermelha para as meninas e um lenço amarelo para os rapazes) e um cartão de identificação para cada criança com o meu número de telefone (não fosse algum se perder). As crianças andavam em histeria. Duas semanas antes do dia, juntei-me com as professoras para fazer a lista das crianças que tinham confirmado. Chegadas ao final da lista, uma delas diz-me: “Mas mana, ainda falta o pai do..., e a mãe do..., e a irmã da...” Resumidamente, mais 17 pessoas para meter no camião. E é claro que um camião só não chegava, mas rapidamente a IOM resolveu o problema. No domingo foi o dia todo na mesma tarefa, nem fui à missa... aproveitar a luz (ao domingo, como é dia de missa, há luz até às 12) para ferver os 52 litros de água (26 para levar para Díli e 26 para o resto da semana), virá-los para garrafas e identificá-las com os nomes das crianças. Dia 1 de Junho, às 7 da manhã começaram a chegar as primeiras crianças... e os acompanhantes... ao ponto de eu já nem conseguir identificar as crianças. Às oito estava eu na Timor Telecom para ir buscar as caixas do almoço e esperar os camiões. Chegados ao ISMAIK, era preciso meter toda a gente nos camiões... quais cintos de segurança... foi tudo ao molhe. Connosco ia uma saca com os brinquedos e outra com mudas de roupa e sacos de plástico. Tudo parecia correr bem quando... começou o primeiro vómito, e depois o segundo, e o terceiro e o quarto e o.... (daí os sacos de plástico), até todos adormecerem. Chegados a Díli, ainda meios zonzos da viagem, fomos para o mercado Lama para a exposição de dinossauros. Sentamo-nos na relva para a nossa merenda: um pão e uma tangerina. Expliquei que não podiam sair da beira das professoras, expliquei porquê, mas qual quê. Estava tudo anestesiado por verem tantos táxis, tanto barulho. Tentámos, atenção, tentámos dar um número a cada criança para depois seguirem em filinha, sem largarem as mãos até ao centro de exposições. Mas é claro que as distracções eram tantas que quais números, quais mãos... Enfim, chegados ao centro, estava lá uma infantil de Díli, todos organizadinhos, de mãos dadas, em filinha, nem se mexiam. Os meus... grande balbúrdia, para fazer uma roda foi o que foi. Enfim... era impossível não se notar que não éramos da “grande cidade”. Cantámos, dançámos, e ainda fizemos máscaras de dinossauros. Havia duas maquetes de dinossauros e fósseis, mas pela cara deles vi que lhes estava a fazer muita confusão, como é que aqueles animais existiram... Saídos do centro (agora um pouco mais organizados) era horas de ir à banhoca. Volta a meter tudo nos camiões. O passeio até à praia foi uma delícia que até me vieram as lágrimas aos olhos... tudo de boca aberta, tantas motas tantos carros. E quando chegamos à beira mar... o mar, tanta água, os barcos dos quais tanto tinham ouvido falar. Aqui já ninguém vomitou. Chegados à praia, os mais atrevidos lançaram-se logo à areia, tocaram nela e viram como era macia. Os mesmos quiseram logo tirar a roupa e irem para a água. Os mais tímidos ficaram pelo passadiço até verem que os colegas se divertiam tanto na água. Todos foram, todos chapinharam a professora. Às tantas, estava eu na água, quando uma das crianças me diz: "Professora, a Eliana está a fazer cocó." A Eliana estava também na água, a poucos metros de mim. Foi preciso dizer para saírem da água. Já eram 2 horas. Sentamo-nos todos na praia para almoçar. Mas ainda faltava uma última surpresa... os doces esperavam pelas crianças no meu escritório em Díli. Chegamos lá, juntamos as crianças no jardim do edifício enquanto foram chamar os big bosses. Às tantas vejo uma criança a baixar as calças mesmo na relvinha do jardim do escritório. E eu: "Antonia, não podes fazer aqui." E ela: "Estava só a brincar." E o big boss a ver. Cantaram umas musiquinhas e tiveram direito a um chupa-chupa. Estavam estoirados, as fardas já tinham ficado para trás. Estava na hora de regressar a casa, com mais vómitos pelo caminho. Foi um dia em cheio.
Foi um dia muito feliz... pelo menos, para mim. E eu só tenho de agradecer às pessoas que tornaram este dia possível. Se essas pudessem ver o que eu vi em cada olhar... Não tem preço.
Foi um dia muito feliz... pelo menos, para mim. E eu só tenho de agradecer às pessoas que tornaram este dia possível. Se essas pudessem ver o que eu vi em cada olhar... Não tem preço.
Acho que também foi um dia muito feliz para todas esses crianças e para mais algumas. Ceramente será dificil de esquecer.
ResponderEliminarParabéns.
Beijinhos.
amiga, quando a ideia do consumismo te assaltar de novo pensa nos momentos e nos olhares e sorrisos que tiveste a felicidade de disfrutar.
ResponderEliminar"a vida não é existir sem mais nada, a vida não é dia sim dia não, é feita em cada entrega alucinada, para receber daquilo que aumenta o coração!"
estamos juntas
Luisa
Que emoção a ler este relato...deve ter sido um dia inesquecível para essas crianças e para ti também, sente-se. O que há melhor neste mundo do que a felicidade pura? Eu acho que nenhum dinheiro do mundo paga o que tu vives e sentes. Continua, amiga. Parabéns :-) Beijinho, Ana.
ResponderEliminarMana Clarissa,
ResponderEliminarObrigada pela Alegria que fazes chegar cá, pelo exemplo de dedicação, entrega e esforço... pelo exemplo de Serviço.
Foi bom ler.. e por momentos imaginar-me aí!
Estamos Juntos
Cris
Parabéns Clarisse...
ResponderEliminarPela entrega...
Parabéns pelo seu magnífico trabalho aí em Aileu.
ResponderEliminarAugusto Lança - Sines