segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Temos obra

Após 7 meses de longo período de seca, chegou o tempo das chuvas e, com ele, o verde das montanhas...

Este fim-de-semana foi o último antes do Natal e o último em que tive oportunidade de ir a Aileu antes de começar a escola. O stress do costume: afinal não tinham pintado as paredes mas sim o tecto (o contrário do que eu tinha dito, sendo que era um tecto totalmente novo), ainda não havia divisória, nem cadeados...

No sábado andámos de manhã a comprar tinta, porque como o tecto foi pintado, já não havia para as paredes. E ainda fomos buscar uma televisão e um DVD que foi oferecido pela Maria. Pretendíamos sair nesse dia, mas depois de uma fila de meia hora para sair de Díli, achámos que íamos chegar muito tarde e não ia render nada.

Domingo, às 8.30 partimos quatro em direcção a Aileu. Depois de 2 horas de viagem, sempre a entrar e a sair do carro (o carro era baixo, e a cada buraco tínhamos de sair do carro para não pesar tanto; imaginem quantas vezes fizemos isso). Tínhamos um longo trabalho pela frente. Os "artistas" puseram-se logo a pintar... e eu a organizar os últimos materiais para o início da escola.

Enquanto uns pintavam, outros arranjam as portas, outros punham redes nas janelas, os cadeados nas portas, tapam as frinchas com restos de madeira, etc.


Eu e a D. Lúcia estivemos encarregues da montagem dos dois espaços - Jardim-de-Infância e ATL.


No fim, ficou uma grande obra. Mas continua a faltar a divisória para separar as salas (que espero que seja posta antes do arranque das aulas), pintar as portas (de vermelho, como a outra escola), e as paredes em palmeira (só com pistola de pressão, de outra forma a tinta não agarra, como irão ver nas fotos).
Falto eu também acabar o abecedário e fazer um novo quadro das alturas. Ah, e falta uma mesa amarela que desapareceu misteriosamente numa semana para os trabalhos das crianças, e a televisão e DVD (não cabia no carro). No entanto, deixo-vos umas fotos com o resultado parcialmente final (para minha tristeza, ainda não pôde ser agora, mas pelo menos está orientado para o início da escola).

Por falta de espaço, tivemos de resumir o Jardim apenas a 4 espaços, ao contrário da sala. O espaço da imaginação e jogos ficaram juntos (logo a primeira carpete), e depois temos em frente o espaço da matemática, do lado direito ao fundo o espaço da leitura e do lado direito atrás (não dá para ver) é o espaço das actividades conjuntas. No meio ficará a mesa amarela desaparecida, com um armário para arrumação.

O ATL tem uma mesa comprida com os jogos e a biblioteca ao lado (o armário também vai ser pintado). Ao lado esquerdo (não dá para ver) tem a mesa de trabalho e no meio tem os bancos em bambu (oferta do Paulo) onde ficará a televisão para os domingos de manhã. A ideia é pintar a parede em palmeira com várias cores, mas fica para o próximo mês.

Para Janeiro já sei que posso contar novamente com os "operários" :) para darmos continuidade à obra. Para aqueles que contribuiram para esta obra, um obrigado muito grande. Com o vosso apoio, conseguimos já fazer um tecto falso, mudar duas portas, comprar tinta e alguns materiais necessários para as novas salas (caixas de arrumação etc.)
E eu digo um "até já" a Timor, porque vou passar o Natal a casa e só voltarei em Janeiro.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Um bem haja à Mana Lu

Finalmente veio o reconhecimento... de 20 anos ao serviço dos que mais sofrem. A Mana Lu recebeu ontem o "Prémio dos Direitos Humanos Sérgio Vieira de Mello", pelas mãos do Presidente da República de Timor-Leste.

Mais do que ninguém, mereceu-o... não só pelo serviço que faz mas pela força de levar todos a segui-la. E bem o sabem os meus irmãos do G.A.S.Porto.

À noite tivemos festa em Tibar, missa seguida de jantar com a comunidade. E lá estivemos com as palavras sábias da Mana Lu, sempre a comover-nos com a sua fé e o seu entusiasmo. Não vos sei explicar, mas quem a conhece sabe. É impossível ficar indiferente a esta missão, mas ao mesmo tempo é um peso tão grande...

Um bem haja à Mana Lu

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Há dias em que não há sol

Costumo dizer que em Timor o sol nasce sempre... mas naqueles dias em que não nasce, o céu está mesmo escuro. E os últimos dias têm sido assim...

Se as obras não estão prontas, porque é que esperam que eu vá lá para ver que não estão?
Se não há material, porque é que esperam que eu vá lá para me dizerem?
Se a porta é grande demais, porque é que não a cortam em vez de pedirem uma porta nova?
Se eu já disse que tem de estar tudo pronto até dia 7, porque é que não está, se eu já só tenho 2 fins-de-semana antes de ir a Portugal?
Se as obras estão a decorrer, porque é que querem mandar os carpinteiros para outro lugar?
Se não há material e os carpinteiros estão sem nada para fazer e eu a pagar, porque é que o camião tem de ir buscar cimento primeiro?

Bem, mas já teremos multi-mistura para o arranque das aulas, e estamos agora nos últimos preparativos relativos à decoração da nova sala e dos materiais necessários para ambas as salas. Este fim-de-semana tivemos a fazer a selecção dos materiais que chegaram há pouco tempo da Austrália. Tem sido um correr contra o tempo, é o calendário, é o quadro do comportamento, é o quadro das presenças, é as actividades que também não estão prontas, é a sala que não está pronta. E ao mesmo tempo, os meus dois empregos em Díli.

É certo que têm sido dias escuros, mas às 8 da manhã em Díli já está um calor que não se aguenta (literalmente a escorrer água)... quem diria que estamos no Natal.

Entretanto, fica uma fotografia de um dia de cores...

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Mana Lu


Este fim-de-semana fui com o Nuno a Dare visitar a Mana Lu. Deixamos o carro no fim da estrada boa e percorremos o resto a pé, cerca de 40 minutos de muita subida. Na varanda, estava a minha menina, a Melita, ainda mais crescida, ainda mais esperta, a gritar por mim. Veio a Mana Lu com um dos seus abraços como se me dissesse “Bem-vinda a casa”.
A Melita, juntamente com a Lourença, rapidamente nos tiraram a máquina, fazendo poses com as flores, os cactos, os coelhos (o que vale é que inventaram as máquinas digitais). O Giovanni não as conseguiu acompanhar, embora quisesse repetir, por isso optou por se andar a debruçar na varanda da Mana Lu (e nós só rezávamos).
Nestas trapalhices todas, exigindo-nos toda a atenção, lá nos conseguimos escapar para falar com a Mana Lu sobre as obras em Aileu. E, como sempre, as palavras da Mana Lu dão-nos a volta e fazem-nos vir as lágrimas. E, acima de tudo, fazem-me repensar porque vim; é o amor dela contagiante que me faz ficar a servir o povo, que não é meu, mas é como se fosse. É ela que me impõe a responsabilidade, quando as forças já não vêm. É ela que muda o rumo, quando o barco tende a voltar para trás...


Depois de vários carpinteiros a passar por Aileu e a tentarem pedir mais material do que o necessário, depois de ter de tomar uma decisão para conseguir dormir melhor, sem medo de que não houvesse sala até ao início do ano, eis que finalmente o Maun Miro recuperou da doença e a Mana Lu decidiu mandá-lo para Aileu. Acertei os detalhes com o Maun Miro, e regressámos a Díli. Para trás ficou a promessa à Melita e à Lourença que um dia as viríamos buscar para ir à praia. O silêncio se desvaneceu quando chegámos a Díli...
Se tudo correr bem, o restante material em falta para as obras parte amanhã de Díli.

Obrigado a todos os que já contribuíram para o Kit Semente Saudável. (vejam na entrada anterior, para quem não sabe).

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Prenda para as Sementinhas

Caros amigos,

havia novidades para vos contar, mas hoje fico só pelo seguinte:

Já têm presentes de Natal? Querem dar um presente especial a alguém? Então contribuam para o Kit Sementinha Saudável que, ao comprá-lo, reverte totalmente a favor do nosso Jardim Infantil As Sementinhas. É uma iniciativa anual da Fundação Evangelização e Culturas, para a qual fomos convidados a participar este ano... e conseguimos... Era esta a surpresa!

Visitem o site www.presentessolidarios.pt

Este kit Sementinha Saudável inclui escova e pasta-de-dentes, balde, toalha, sabão, mistura nutricional e arroz. Mas no site têm toda a explicação. Cada criança do nosso Jardim Infantil em Aileu terá direito a um kit mensal, através de cada pessoa que compre este presente. Estou tão feliz!!!!!!!!! É menos uma despesa em mente...

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Boas notícias


Ainda não posso revelar muito, porque ainda não é oficial. Mas recebemos a boa notícia de que o Jardim Infantil As Sementinhas vai entrar numa campanha e, através dela, poderemos vir a conseguir sustentar a alimentação e a saúde das nossas sementinhas durante um ano.

Agora oficialmente posso dizer que as Irmãs da Misericórdia da Austrália vão suportar os custos inerentes ao pagamento dos salários das nossas professoras do Jardim Infantil a partir do próximo ano.

Também oficialmente posso dizer que as nossas obras de reconstrução da escola começarão na segunda. Donativos continuam a ser bem recebidos.

A D. Mafalda e a D. Lúcia também se ofereceram para dar uma limpeza à nossa horta para começarmos a plantação do milho antes do arranque da época das chuvas. E fico contente, porque apesar de eu continuar a ter de gerir as actividades, as pessoas assumem a responsabilidade e não dependem de mim. Sustentabilidade!

O ATL também não pode funcionar enquanto não se terminarem as obras; no entanto, preciso de saber até que ponto vai o compromisso das educadoras.

Acho que esta noite vou dormir um pouco melhor...

Tenho sentido este blogue um pouco vazio de fotografias, por isso decidi ir pondo algumas que nunca mostrei...

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Dois dias diferentes


(que olhos!)

Começou o mês cultural do Brasil. E eu fui assistir a dois concertos de música clássica brasileira... em Timor. Muito bonito, dois dias diferentes, cheios de música.

Não tenho grandes avanços para contar, apenas que terminei os programas para o primeiro período da infantil, as planificações, os livros de actividades dos miúdos. De resto, tudo avança lentamente.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Um fim-de-semana de descanso

Este fim-de-semana fui para Baucau (gostava de ter fotografias para vos mostrar, mas já sabem o que aconteceu à máquina). Decidi "deixar" um bocadinho Aileu este fim-de-semana (ainda estamos à espera do tal carpinteiro que ainda não veio de férias) e decidi ir desanuviar do trânsito e calor de Díli.

Para além de ter sido um bom descanso, foi também forma de nos lembrarmos que, de facto, Timor é lindo. E é (mais uma vez, se ainda tivesse a máquina...), a água azul e verde, rodeando as montanhas, os pequenos pescadores... No sábado fomos à praia onde tinha o sinal de cuidado com os crocodilos, mas enquanto lá estivemos não apareceu nenhum. Voltámos no domingo à tarde, um calor de morrer, sem ar-condicionado no carro, a rezar para que o carro não ficasse a meio (porque há imensos locais totalmente desabitados).

Para a semana é Aileu, porque é necessário dar início à limpeza da horta das crianças. As professoras do JI estiveram esta semana em Díli em formação na Escola Internacional. Estavam muitíssimo entusiasmadas, e já vinham a falar inglês comigo. Principalmente foi bom para verem que de facto o nosso método de ensino é igual a outras escolas, logo só pode estar correcto, dando-lhes mais força para continuarem este próximo ano. Ainda não sabemos quantas crianças teremos: apesar de ter havido um período oficial de inscrições, curiosamente quase ninguém se inscreveu durante esse tempo, apenas depois. E não foi só na nossa escola.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Frustrações

Agora é que não há mesmo fotografias. A minha máquina fotográfica foi roubada. Desta vez foi a gota de água e fui à polícia fazer queixa, sabendo desde o início que não adiantaria. Especialmente quando vi um livro totalmente preenchido com queixas sendo elas todas de roubos ou assaltos. Mas também foi surreal: depois de muitas perguntas, nomeadamente "a que horas foi roubada?" ??????, era quase meio-dia e a senhora que me atendia, diz "Bem, tenho de ir almoçar." e deixa-me ali sozinha. Depois vem outro e dá-me um papelinho de rascunho rasgado com o número do caso para supostamente eu ir verificar os avanços na investigação. Isto, da polícia da UN.

Neste momento, alterno-me entre Díli e Aileu, tendo cada vez mais a certeza que é prioritário arranjar um carro, porque não aguento mais, porque parece cada vez mais longe, porque não aguento mais levar com os vomitados, os cheiros, os animais, as dores de costas ainda a meio da viagem de tanto bater com os ossos nas traves em metal a cada buraco, as couves, os apertos (até porque toda a gente acha que o meu ombro é uma boa almofada, e a minha perna um bom sítio para se segurarem). Farta! Já devo ter feito, um mínimo, de 100 viagens naquilo, que me faz perder 6 horas por dia por cada viagem(tempo de espera até que algum se decida a aparecer, tempo de viagem, tempo a pé até casa).

Em Aileu é actualmente um bom sítio para dormir, uma vez que todas as estudantes foram de férias, ficando apenas meia dúzia delas. Mais uma vez, os meus planos sairam furados. Já tinha carpinteiro, os materiais, era só começar. Eis que: "Ah, afinal vamos esperar que o fulano tal venha de férias..." Se até ao fim de Outubro não vier o tal fulano, recorro ao meu primeiro carpinteiro.... A escola TEM de estar pronta até início de Dezembro. Afinal o que escrevi na entrada anterior estava certo: "demos início à possibilidade de começarmos brevemente..." Sei que estou cá já há muito tempo e já me deveria ter habituado ao facto de o "logo/já" não ser concretizável. É claro que eu vim com a certeza de que 3 meses daria mais que tempo para ter tudo pronto. Mas agora já não são 3 meses. Estou tão cansada, porque tenho o sonho todo na cabeça, a "maquete", e preciso de me libertar disto.

Ah, e mais... precisava de comprar mais 5 placas de triplex, e estão esgotadas desde há 3 semanas...

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Do lado de cá

Já há duas semanas que cheguei. Não tenho ainda nenhuma fotografia e poucas terei até Dezembro, uma vez que a escola só começa em Janeiro. No entanto, a vida continua e já demos início à possibilidade de começarmos brevemente as obras para a nova sala do Jardim Infantil. O material já está disponível, o mobiliário também.
Ah, e também já se começou a pensar iniciar o cultivo do milho.

Novidades? As do costume... os ratos roeram a minha porta do quarto e agora tenho um tronco de madeira na base que quase não permite fechar a porta. Deixaram também de ter medo de mim e passeiam-se livremente na sala comigo ao lado.

Eu ando ocupada com os programas para o próximo ano (com muita preguiça à mistura).

sábado, 26 de setembro de 2009

A quinta chegada

Quando algo que se vai tornando um hábito, achamos que cada vez é mais fácil. Mas não é. Foi a minha quinta chegada... Bem, pelo menos ainda não tive uma crise de rins, nem malária. Continuo em Díli em reuniões até à próxima quarta, dia em que seguirá um camião de carga para Aileu com imensos materiais para o Jardim Infantil e ATL. Só mesmo de camião...

Só para dizer que estou bem, está imenso calor e chove. Os manos do G.A.S.Porto partiram hoje para Portugal e ficaram tristes por me ver sozinha. Mas não estou sozinha, e tenho muitos amigos por aqui e sei que em Portugal também torcem por mim. De resto, o costume... a paciência tem de aumentar... já sabem, os Kinders! E os meus manos do G.A.S.Porto que partiram hoje já me dão razão. É mesmo a terra dos Kinders!

E vou ver os Kinders que me esperam em Aileu.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

1.º módulo de formação















Apesar de eu estar por terras portuguesas, a vida move-se em Timor. A D. Mafalda e a D. Lúcia - as duas educadoras do Jardim Infantil - tiveram na última semana o primeiro módulo de formação (total de 4) com o tema Psicologia – Desenvolvimento Humano, juntamente com mais 23 educadoras no âmbito da rede que vos falei - TALIHA.
Pelo que sei, foi difícil, porque foi a primeira vez que ouviram termos tão técnicos e sem correspondência no Tétum. Mas também sei que adoraram, que aprenderam imenso sobre si próprias e os alunos. Todos os dias à noite tinham que preencher um diário com as aprendizagens o que as ajudou a aplicar o que tinham aprendido. O segundo módulo será no dia 12 de Abril de 2010, coincidindo com as nossas férias escolares.

Eu, pessoalmente, estou muito orgulhosa, e a cada dia sinto que caminhamos para um melhor servir...

terça-feira, 18 de agosto de 2009

TaLiHa

Caros amigos,

queria apenas chamar a atenção para um aspecto importante que referi há algum tempo. As Sementinhas está integrado numa rede de Jardins Infantis em Timor-Leste, com o nome TaLiHa (Tau Liman Hamutuk - Juntar as Mãos).

Foi criada, informalmente, pelos directores de 11 Jardins Infantis (onde eu estou incluída), com o objectivo de garantir a qualidade da educação pré-escolar em TL, melhorar os nossos próprios Jardins Infantis, dar apoio a outros Jardins Infantis e servir como apoio ao Ministério da Educação de TL na preparação de quadros e programas nesta área (uma vez que a educação pré-escolar não tem sido uma aposta do governo).

As nossas professoras timorenses estão a seguir um plano de formação desde Janeiro de 2009 (tal como já referi numa das minhas entradas em Abril). Muitas delas têm pouca formação nesta área, é frequente terem apenas o nível primário de educação, pelo que é urgente que haja um plano de formação integrado, para depois obtermos o reconhecimento da Australian Catholic University e, assim, garantir às nossas Sementinhas (pelo menos, as minhas) um melhor ensino.

Convido-vos a visitar o nosso site em http://taliha.org, caso tenham algum interesse em saber mais e, quem sabe, contribuir.

Já agora, a D. Mafalda e a D. Lúcia vão agora, no dia 8 de Setembro, começar a segunda semana de formação, com o tema CURRÍCULO. E só para ficarem a saber: esta formação vai-me custar $130 por pessoa.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

O último dia

Chegou mesmo o último dia! Comemorámos 2 coisas: a primeira, o primeiro aniversário do nosso Jardim Infantil que abriu precisamente em Julho de 2008. A segunda foi a "saída da primeira fornada" deste Jardim Infantil.
A euforia começou no dia anterior em que estivemos a fazer brigadeiros com as crianças para o dia da festa e os enfeites da sala. Alguns ficaram de castigo, porque comiam a massa dos brigadeiros em vez de fazer as bolinhas.














Às 8h de sábado começaram os preparativos com as comidas. Pedimos a colaboração aos pais e cada um trouxe algo para juntar à mesa da merenda. Até o administrador me veio trazer dois bolos e sumos para as crianças. A minutos de começar faltavam 3 crianças, 2 delas eram protagonistas num dos teatros. Estavam todos nervosos com a presença dos pais e algumas coisas ficaram esquecidas. No teatro dos mais pequenos, perante os pais, o sol e a lua tiveram vergonha e já não quiseram abraçar-se. Na música da avozinha, o menino que levava o bolo ficou para trás. No teatro dos maiores, o "dente estragado" só se ria para os pais em vez de fazer cara de "estragado". A professora Lúcia também se esqueceu de vestir a batina para ser dentista. Na poesia, a Domingas esqueceu-se dos gestos. Na música "Escola G.A.S.Porto" trocaram as estrofes. Para alguns, pode parecer uma catástrofe. Para mim, foi mágico. Ficam algumas fotografias que mostram a "qualidade desta escola", de acordo com os representantes da administração. No final, cada criança recebeu o seu boletim de notas, o famoso certificado e uma fotografia da nossa viagem a Díli para recordarem. E ainda entregaram os presentes às professoras.














E aqui fica uma fotografia dos meus “tios”, os donos do restaurante português que muitas vezes me satisfizeram os desejos por comida portuguesa para me dar forças para continuar. Até Setembro!











quinta-feira, 30 de julho de 2009

A dois dias do fim


Os dias correm e estamos a 2 dias da festa de finalistas. Tem sido uma correria... boletins de notas, preparar as pastas com os desenhos, preparar as roupas para a festa, ensaiar pela milésima vez a dança em que eu digo: "Agora vamos todos para o lado esquerdo.” E alguns vão para a direita. “Agora para a frente.” E alguns vão para trás. “Agora já não quero ser o sol.” “Agora já não quero casar com o sol.” Ai, ai. Que dose de paciência, mas tão doce! Estivemos a fazer as prendas para dar as professoras, aqui vai uma foto para verem como ficou bonito: cada criança marcou o seu dedo na moldura, e os retoques fui eu... adivinhem com o quê? Feltro, claro.

Esta semana cantamos os parabéns à professora Mafalda que fazia anos. E temos o costume “alemão” (dos meus tempos no Colégio de Alemão) de levantarmos o aniversariante na cadeira o número de vezes consoante a idade. Então perguntei: “Quantos anos acham que ela tem?” “17 anos” Outro: “125 anos”. A D. Mafalda faz 45.
Também convidámos o administrador do distrito a participar na nossa festa este sábado, uma vez que ficou encantado com elas quando foram cantar à administração. Hoje o administrador veio lá em casa. Andava preocupado, queria dar um presente às crianças e não sabia o quê. Mais um ponto para As Sementinhas. Eu, claro, no papel de professora disse: “Pode ser um livro.” Ao que ele respondeu: “Pode ser uns refrigerantes?” Eu ia dizer o quê????
A sala está cada vez mais vazia à medida que se tiram os desenhos da parede. Ao mesmo tempo, penso que passou o primeiro ano e sobrevivemos apesar de todas as dificuldades. E sinto orgulho.
O ATL vai também de férias e este próximo domingo teremos a “Pequena Sereia” de manhã e à tarde num piquenique na montanha, no qual não estarei presente, porque estarei no aeroporto de Díli à espera dos novos Gasómetros (4 voluntários do G.A.S.Porto) que irão para Tíbar para uma missão de dois meses. E eu, vou um mês e meio de férias a Portugal (a riscar os dias) nesta próxima terça, com data de regresso já marcada para 20 de Setembro. Por isso, em breve estarei ao vivo e a cores para mostrar que de facto é real.
Ah, financiadores continuam a precisar-se! Até porque já estou a fazer novos jogos para a nova sala da Infantil, e continuo a sonhar que em Janeiro teremos, sim, uma grande escola!!

Os meus amigos “Mickey” continuam por cá, gostam aqui do ambiente. Matamos seis na semana passada, mas isso não assustou os irmãos. No outro dia, encontrei um ratito dentro do meu quarto. Descobri que ele entrava por uma frincha minúscula que tenho entre a nova protecção da porta em caixa de CDs e o espaço por onde passa o cabo da extensão (não tenho instalação eléctrica no quarto). Agora tenho, para além dos CDs, do cabo e da esponja, mais uns quantos lápis enfiados na frincha por onde ele poderia voltar a entrar. No entanto, hoje acordei às 6 com um grande a bater-me à porta. Conseguiu roer um pedaço da fita isoladora que tinha na porta. E esta semana encontrei um escorpião no meu quarto, mas ele andava meio zonzo devido ao produto que pus no meu quarto. No entanto, todo o cuidado é pouco.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Nem todos os dias sao dias de sol

Os exames continuam, como vêem na fotografia. E a média de crianças a faltar durante este período continua.
A Domingas já faltava há uma semana. Uma das professoras foi a casa dela ver o que se passava. A mãe explicou que a Domingas só vai à escola se a mãe lhe der dinheiro. Mas a mãe decidiu esta semana não lhe dar... e a Domingas não veio à escola... A Domingas é apenas um exemplo, mas isto acontece com a maioria das crianças...

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Novas mafarriquices

Ainda escrevi anteontem, mas aconteceu tanta coisa em dois dias.
Começámos os “exames” orais das crianças. E é engraçado que mandámos um aviso aos pais para mandarem os filhos, especialmente esta semana, à escola (o que também não faz muito sentido, porque partimos sempre do princípio que as crianças vêm todos os dias à escola, o que não é o caso em Timor). E o mais engraçado é que precisamente nesta semana têm-nos faltado cerca de 10 crianças por dia (e sempre as mesmas).
O Tiago e a Vânia são os casos mais difíceis. Não podemos fazer mais por eles. Simplesmente o seu cérebro não se desenvolveu quando devia... São dois casos, cuja intervenção deveria ter começado logo à nascença. São problemas essencialmente de malnutrição. Quando eu pensava que a Infantil podia “salvar” todas as crianças, afinal não podia. A malnutrição... a todos os níveis. Mulheres com tuberculose que, mesmo tomando os medicamentos, nunca recuperam devido à alimentação que têm. Perdem as forças com a doença e também não podem trabalhar no campo, atenuando ainda mais a situação de carência alimentar. Mulheres malnutridas que não podem tomar a vacina contraceptiva, porque as menstruações são irregulares devido à malnutrição. A natalidade sobe e a fome também. Mas também é porque não sabem. Lembram-se da Maria bebé que mora aqui connosco. A bebé é mesmo gordinha, porque enchem-na e enchem-na de arroz. Não come fruta, poucos legumes. Numa terra tão rica em recursos... Já expliquei, mas continua a comer a mesma coisa.
Graças à Isabel em Díli, as crianças da Infantil recebem, todos os dias, uma tigela de arroz com pó nutricional. Se virem a pôr o pó, já não querem; se não virem, aquela merenda é uma coisa nutricional. Dizem que querem ficar forte como os portugueses e inteligentes como o Avô Xanana, e comem tudo. No entanto, o arroz desaparece e não é do ratito que ontem encontrei a sair de dentro do saco. Às vezes entro na cozinha e estão as estudantes a comer o mesmo que as crianças. Já sabia que iria acontecer, mas não posso fazer nada para que não aconteça.

Ontem houve outro incêndio, tal como no ano passado, mas desta vez foi do lado esquerdo da nossa casa, uma montanha deserta do nosso lado e com cafezais e casas tradicionais do outro. Quando me apercebi do fogo, ainda estava do início. Perguntei às manas se não devíamos ligar aos bombeiros e recebo como resposta: “Não, que eles ainda nos acusam de termos posto o fogo.” Liguei de imediato e pedi a uma estudante para falar com eles e ela, acanhada, nem abre a boca e diz-me para esperar. Pego no telefone e falo. Fui até à base ver se estava lá alguém a pôr fogo, mas não estava. Dizem que vêm logo, e por acaso vieram... de mota e com dois extintores. É claro que eu lhes perguntei se eles achavam que eu estava a brincar quando disse que a montanha estava a arder. Os extintores nem saíram das motas, e os quatro lá começaram. Estava muito vento e, em pouco tempo, a frente já tinha passado para o outro lado da montanha. Agora, temos uma montanha preta, mas ninguém se importou na altura, nem importa. É igual. Para muitos, é um terreno que agora pode ser plantado.
De resto, o normal. Um frio de morrer cá em cima, a casa sempre cheia de pessoal (acho que já vamos em 60), a água que não há... E mando mais algumas fotografias: a primeira com a D.Mafalda a dar aulas com os óculos dos miúdos, outra a Carlota e a Eliana que vão, segundo elas, a uma festa (reparem nos sapatos), outra com o Frederico a cozinhar e as meninas a descansar numa casa montada por elas.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Sessao de cinema

Anteontem tivemos a primeira sessão de cinema depois da missa. Ainda não foi a Rua Sésamo, porque ainda não tenho os DVDs, mas foi a “Fuga das Galinhas” e as 40 crianças presentes adoraram. Como começámos um pouco mais tarde do que o esperado, e como a luz acabava às 12h, fomos interrompidos. Mas as crianças voltaram ao final da tarde para ver o resto.
Presentes estavam algumas crianças da Infantil e ATL com os respectivos pais e ainda outras crianças pertencentes à comunidade de Aileu. Daqui a 2 semanas será a segunda sessão, ainda escolher entre "A vida das formigas" e "Pocahontas".

A chegar ao fim do ano lectivo

É engraçado como tudo aqui tem de ser adaptado à altura do ano. Pela quarta ou quinta vez tivemos de mudar o horário. E porquê?
- Primeiro, não podíamos dar aulas da parte da tarde durante a época das chuvas, porque chove sempre à tarde
- Segundo, 9 horas era demasiado tarde (de acordo com as opiniões locais), e mudámos para as 8.30.
- Terceiro, pusemos uma turma a começar às 8.30 e outra às 10. Mas como não há relógios, todas vinham ao mesmo tempo e era uma grande confusão, por isso tivemos de pôr as duas turmas à mesma hora.
- Agora que chegou o tempo seco, o primeiro mês e meio é um frio desgraçado. Entre as 19h e as 8.30h é um frio que não se aguenta (coincidindo com o pôr e nascer do sol). E é claro que para as crianças é muito doloroso tomar banho com aquele frio para estarem na escola pouco antes das 8.30h. Por isso, tivemos de mudar novamente o horário para as 9h.
Resumidamente, agora temos um horário para o tempo das chuvas e outro para o tempo da seca... e já gastei cartolinas que eu sei lá, para fazer os horários.
Ainda se fala do passeio a Díli, e as crianças quiseram fazer um livro e aqui vai uma das páginas, pintada e escrita pelo Flávio.




A escola está a chegar ao fim. Os exames estão à porta, já começam na próxima semana. Em três semanas faremos a festa de “finalistas”. Começámos já os preparativos: teremos dois teatros, dança, poesia e canções. Da minha parte, já estou a preparar as fatiotas e as ofertas para os finalistas. A 2.ª infantil vai apresentar um teatro sobre a saúde dentária, em que uns podem ser o ”dente bom”, outros uma cenoura, outros um tomate, outros o “dente mau”. Os da 1.ª infantil estão meios contrariados, principalmente os dois protagonistas. A história é sobre o Sol e a Lua que se casam e têm muitos filhinhos que são as estrelas. Agora, é claro que o Sol e a Lua estão bastante contrariados, porque acham que vão ser gozados por todos. Aliás, vejam a primeira foto: conseguem descobrir os protagonistas? É que vê-se logo (são os dois da frente).
Na semana passada tive uma reunião daquela rede restrita a 12 infantis de directores de Jardim Infantil em Timor-Leste. Parece-me que me coube a mim de na próxima reunião ensinar a fazer fantoches em feltro. Penso que em Outubro já teremos as nossas professoras em formação.
O ATL também irá de férias brevemente. Faremos um piquenique no cimo da montanha. Mas como a escola para o próximo ano lectivo só começa em Janeiro, estamos a pensar continuar as duas escolas (em part-time) a partir de Outubro.
Outras novidades: Só as do costume... os ratos! Apanhei um enorme mesmo a passar à frente da porta do meu quarto. Tive que fazer uma limpeza ao armário da sala e deitar muita coisa fora porque estava cheia de porcaria de ratos. Eu tinha comprado um armário em Díli com porta... tinha, mas um Kinder: o vendedor vendeu a outro quando o ia buscar. Por isso, neste momento, estou à espera de um orçamento para pôr umas janelas no armário cá de casa.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Bons Kinders

(acho que toda a gente deve saber menos eu. Mas caso haja alguém que não saiba que se clicar nas fotos duas vezes elas são mostradas no tamanho original, aqui fica a indicação)
Acho que não contei a história da cobra em tecido com areia dentro, para tapar a fenda entre a porta e o chão do meu quarto. Pois é, a cobra morreu.... roída. Por quem? Ora adivinhem lá? Agora tenho capas de CD, fita isoladora e espuma... vamos ver até quando isto dura.
Esta noite estive com a Melita a fazer contas (que anda na nossa infantil). “Ó professora, como se escreve EMA?” E eu: “Ora pensa lá. E-M-A." “Ah, já sei.” E lá escreveu. E eu a pensar que de facto tenho a melhor infantil.
Os nossos meninos da infantil foram convidados a fazer a sessão de abertura de um Mini Mundo Perdido que veio para Aileu. Que delícia! Foram o encanto de todos. O próprio administrador disse que tinham a melhor pronúncia portuguesa, e já foram convidados para outra coisa qualquer. Estavam todos contentes, até porque, segundo eles, comeram carne. E este foi o ponto mais importante. Disseram até que não se importavam de ir cantar outra vez para comerem bem. Lá vestiram o seu uniforme, olhem só para eles! Levavam o programa de cantar “Escola G.A.S.Porto”, “Tic Tac”, “Cabelo, cabeça...” e ainda fizeram um discurso de boas-vindas. E melhor... nunca foram tão bem comportados como neste dia.
No ATL tivemos a pintar paredes... Sim, aquela parede era mesmo feia... e eles passaram uma tarde bem agradável a pô-la bonita. Vamos ver se conseguimos dar a estes meninos um espaço mais agradável daqui a algum tempo.

E para finalizar... uma aventura. Lá vinha eu hoje de manhã, a caminho de Díli, na angguna, literalmente no meio das couves (à segunda os agricultores vêm para Díli vender os produtos), um gelo que não se podia, sem espaço para mexer um dedo mindinho, as costas doridas de bater contra os ferros ao passar nos buracos, o habitual (nenhuma angguna parte sem estar verdadeiramente cheia). Como já não havia espaço para as couves dentro da angguna decidiram pendurar as restantes da parte de fora do carro. O senhor que estava ao meu lado (é que fico sempre sentada ao lado dos mesmos) começa a vomitar, mas para o lado da estrada, onde estavam as couves. Ou seja, acho que não preciso de explicar o que aconteceu às couves. Quando a viagem acabou, pegaram num raminho de folhas secas para limpar e assim foram postas no mercado à venda.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Financiadores precisam-se

Mais um Kinder. Reparei que no nosso centro de estudos faltava uma lâmpada exterior. E eu, preocupada, virei-me para uma das manas e disse: "Mana, acho que nos andam a roubar lâmpadas." Ela, também preocupada, vem comigo ver. Depois diz-me: "Ah, mana, nós quando nos falha uma lâmpada lá em casa, vimos cá buscar ao centro." É que eu já nem sei porque é que me espanto, é que não sei mesmo... O problema é que eu também uso aquele espaço.

Alguém tem DVD da Rua Sésamo em português? É que ando cá com uma ideia de fazer visionamento de DVD educativos aos domingos de manhã (há luz até às 12h). E já agora, há alguém que tenha um leitor de DVD que não precise? (tínhamos um lá em casa, mas também foram tiradas peças para fazer não sei o quê).

Ando a projectar também a reabilitação do espaço do ATL (que está muito estragado) e dividi-lo em dois, fazendo uma segunda sala para a Infantil (urgente!) e outra para o ATL. Para além de chover lá dentro, há o problema das galinhas que põem lá ovos, dos ratos que vão lá morrer, dos cães que fazem necessidades...

Financiadores precisam-se!

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Actualizações

Desde que chegaram estas roupas, colares, sapatos, carteiras, que, principalmente as meninas, nunca mais quiseram mais nada. Vestem-se assim e depois dizem-me "Professora, nós vamos para Dili trabalhar como a professora." Acho interessante esta perspectiva...

É claro que já me andam a "massacrar" a cabeça a perguntar quando vão outra vez passear.


Devo também reportar que os meus meninos, de ambas as classes, já sabem o alfabeto todo. E já aprenderam o sinal mais. Digam lá se esta não é a melhor escola que já viram? Reparem na atenção... quase se matam para virem ao quadro mostrar a todos que já sabem escrever.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Sexta-feira

Hoje é sexta-feira.... dia de limpeza nas ruas de Díli. Qualquer carro é parado e os passageiros têm de limpar o que está à volta. Nenhum ministério trabalha à sexta de manhã para ir limpar. Inclusivé o Presidente. Isto, das 7 às 9 da manhã. Tolerância de ponto até às 14h, para descansar. Desde Maio...

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Dia Internacional da Criança

(eu queria pôr mais fotos, mas é tão complicado aqui no blogue)
Eu queria dedicar uma só entrada no blogue ao dia mais especial que tive após 1 ano e 5 meses em Timor: o Dia Internacional da Criança. Já andava a falar-vos disto há muito, muito tempo, porque de facto a excitação instalou-se em Aileu desde que tive a confirmação de transporte gratuito para levar as crianças a Díli (em Abril). Mas tudo tem uma história: o meu plano era levar 35 crianças + 5 acompanhantes a Díli. Tínhamos um camião e alimentação também garantida. Tínhamos fardas (uma saia vermelha para as meninas e um lenço amarelo para os rapazes) e um cartão de identificação para cada criança com o meu número de telefone (não fosse algum se perder). As crianças andavam em histeria. Duas semanas antes do dia, juntei-me com as professoras para fazer a lista das crianças que tinham confirmado. Chegadas ao final da lista, uma delas diz-me: “Mas mana, ainda falta o pai do..., e a mãe do..., e a irmã da...” Resumidamente, mais 17 pessoas para meter no camião. E é claro que um camião só não chegava, mas rapidamente a IOM resolveu o problema. No domingo foi o dia todo na mesma tarefa, nem fui à missa... aproveitar a luz (ao domingo, como é dia de missa, há luz até às 12) para ferver os 52 litros de água (26 para levar para Díli e 26 para o resto da semana), virá-los para garrafas e identificá-las com os nomes das crianças. Dia 1 de Junho, às 7 da manhã começaram a chegar as primeiras crianças... e os acompanhantes... ao ponto de eu já nem conseguir identificar as crianças. Às oito estava eu na Timor Telecom para ir buscar as caixas do almoço e esperar os camiões. Chegados ao ISMAIK, era preciso meter toda a gente nos camiões... quais cintos de segurança... foi tudo ao molhe. Connosco ia uma saca com os brinquedos e outra com mudas de roupa e sacos de plástico. Tudo parecia correr bem quando... começou o primeiro vómito, e depois o segundo, e o terceiro e o quarto e o.... (daí os sacos de plástico), até todos adormecerem. Chegados a Díli, ainda meios zonzos da viagem, fomos para o mercado Lama para a exposição de dinossauros. Sentamo-nos na relva para a nossa merenda: um pão e uma tangerina. Expliquei que não podiam sair da beira das professoras, expliquei porquê, mas qual quê. Estava tudo anestesiado por verem tantos táxis, tanto barulho. Tentámos, atenção, tentámos dar um número a cada criança para depois seguirem em filinha, sem largarem as mãos até ao centro de exposições. Mas é claro que as distracções eram tantas que quais números, quais mãos... Enfim, chegados ao centro, estava lá uma infantil de Díli, todos organizadinhos, de mãos dadas, em filinha, nem se mexiam. Os meus... grande balbúrdia, para fazer uma roda foi o que foi. Enfim... era impossível não se notar que não éramos da “grande cidade”. Cantámos, dançámos, e ainda fizemos máscaras de dinossauros. Havia duas maquetes de dinossauros e fósseis, mas pela cara deles vi que lhes estava a fazer muita confusão, como é que aqueles animais existiram... Saídos do centro (agora um pouco mais organizados) era horas de ir à banhoca. Volta a meter tudo nos camiões. O passeio até à praia foi uma delícia que até me vieram as lágrimas aos olhos... tudo de boca aberta, tantas motas tantos carros. E quando chegamos à beira mar... o mar, tanta água, os barcos dos quais tanto tinham ouvido falar. Aqui já ninguém vomitou. Chegados à praia, os mais atrevidos lançaram-se logo à areia, tocaram nela e viram como era macia. Os mesmos quiseram logo tirar a roupa e irem para a água. Os mais tímidos ficaram pelo passadiço até verem que os colegas se divertiam tanto na água. Todos foram, todos chapinharam a professora. Às tantas, estava eu na água, quando uma das crianças me diz: "Professora, a Eliana está a fazer cocó." A Eliana estava também na água, a poucos metros de mim. Foi preciso dizer para saírem da água. Já eram 2 horas. Sentamo-nos todos na praia para almoçar. Mas ainda faltava uma última surpresa... os doces esperavam pelas crianças no meu escritório em Díli. Chegamos lá, juntamos as crianças no jardim do edifício enquanto foram chamar os big bosses. Às tantas vejo uma criança a baixar as calças mesmo na relvinha do jardim do escritório. E eu: "Antonia, não podes fazer aqui." E ela: "Estava só a brincar." E o big boss a ver. Cantaram umas musiquinhas e tiveram direito a um chupa-chupa. Estavam estoirados, as fardas já tinham ficado para trás. Estava na hora de regressar a casa, com mais vómitos pelo caminho. Foi um dia em cheio.
Foi um dia muito feliz... pelo menos, para mim. E eu só tenho de agradecer às pessoas que tornaram este dia possível. Se essas pudessem ver o que eu vi em cada olhar... Não tem preço.





quarta-feira, 20 de maio de 2009

Novas alegrias

Está mais que assente o nosso passeio da Infantil a Díli. Os pais autorizaram todos (há quem se tenha voluntariado para ir). E é claro que as crianças estão numa euforia tal e só falam do passeio que será em Junho. Como na escola todos os dias eles conversam sobre que dia é hoje, em que mês estamos, em que ano estamos, tentei explicar-lhes que ainda estamos no mês de Maio, e eles já perceberam que o papelinho do mês é aquele que demora mais a trocar. Então esta semana tivemos a primeira prova dos uniformes que eles vão usar (dados pela Mana Lu). Era vê-los a correr e a dizer: “Vamos já, vamos já.” E o problema foi tirar os uniformes: as meninas levam uma saia vermelha e os rapazes um lenço amarelo no pescoço, e cada um leva um colar ao pescoço que diz: “Se eu me perder, por favor telefona para a minha professora através do número...” A nossa madrinha Isabel também quis financiar o almoço das crianças para este dia. Mas que animação será...
Na semana passada fizemos a primeira experiência com um novo horário para as crianças. Os dois grupos vêm de segunda a sexta, embora a horas ligeiramente diferentes. E ainda bem que a fizemos, porque... Aqui o tempo é relativo, por isso TODAS as crianças vieram à mesma hora, ou seja, confusão total, barulho.... Mudamos outra vez esta semana e parece que funciona melhor. Mas precisava de uma auxiliar, mas... osan la iha (literalmente: dinheiro não ter). Na segunda entrei na infantil e foi brincadeira pegada. Eram saltos, eram corridas, eram gritos, era a puxarem-me pelas pernas. Basicamente todos com saudades minhas e tive de explicar que só tenho duas mãos e por isso não posso dar as mãos a todos.
Alguém andou também na nossa infantil e deixou pegadas (uma pessoa, um cão e uma galinha) e haviam de ver as caras deles. Vejam a fotografia.
A nossa caixa KindyBox já chegou a Aileu, com tanta coisa nova.... e ainda vem mais. E sei onde posso ir buscar ainda mais. Todos os meses chega um contentor da Austrália com as coisas mais inimagináveis. É só fazer uma listinha e eles mandam. É como um supermercado, mas não se paga. Este mês já fui buscar lápis, cadernos e lençóis para as manas.
No ATL é claro, o Quintão não apareceu, não atende o telefone, não responde às mensagens. A Madalena doente, apenas a Lourença... e como estamos na fase de exames nas escolas, vieram poucas crianças.
Em casa o costume: o meu balde que desapareceu devido a um descuido meu (deixei na casa-de-banho). Lembram-se daquele cheiro a rato morto? Eu bem me parecia que havia mais. Ontem andava à procura de umas coisas numas caixas e ao pegar numa das caixas senti um cheiro estranho...abri e lá estava ele, com aspecto de já estar há alguns dias. Entretanto mais um morto em cima da mesa e outro no chão. Mesmo assim, os vivos não se deixam afectar e continuam a massacrar-me à noite. De resto, nunca mais tive aranhas e escorpiões desde que apliquei um produto no meu quarto que afasta a maioria dos insectos.
Fui dar uma voltinha pelo Suai onde o mar é mesmo bravo. E sabem aquela igreja tão bonita que havia no Suai toda em madeira? Pois, o padre achou que não era bonita e destruiu tudo, estando agora a população a fazer uma nova.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Novas aquisições

Conheci Max Stahl. Soa-vos familiar? Graças a ele o mundo abriu os olhos para o que se passava em Timor em 91. Foi ele que filmou o massacre de Sta. Cruz. Afinal, é um homem normal... e fala português!!!Estou a milhas de distância de Portugal, a 3 dias de avião, a 8 horas de diferença e, mesmo assim, comi um bacalhau com natas que acho que nem em Portugal comi um tão bom... ou terão sido as saudades?Consegui um financiamento para a nossa merenda escolar na Infantil. A nossa madrinha é a Isabel, responsável pelo Instituto Camões. Em princípio teremos arroz com multi-mistura. Obrigado, Isabel! No entanto, não é assim tão fácil. Em Timor deixou-se de fazer a multi-mistura porque exige muito mas muito trabalho. Depois de ter contactado com várias instituições, vamos ter de nos limitar a uma mistura mais simples, mas também nutritiva (e cara também).Este sábado tive a minha primeira reunião da rede de directoras de Jardim Infantil. Em primeiro lugar, vamos receber tanta mas tanta coisa da Austrália: jogos em madeira, capas de super-homem, asas de borboleta, material de escritório, bonecos de dedo para contar histórias, livros... uma lista interminável. Acordámos também um plano de formação para as nossas educadoras de infância e ainda preparamos a proposta de ortografia a ser entregue ao Ministério de Educação de TL, uma vez que aqui a ortografia não está ainda regularizada e é uma grande confusão (letras totalmente incompreensíveis).Da minha parte, todas as pessoas desta rede ficaram surpreendidas com a minha experiência, também dada a minha idade, e muitas vieram falar comigo no fim no sentido de fazerem uma visita ao meu Jardim Infantil. Ficaram muito interessadas nas actividades que desenvolvo e no aproveitamento que faço dos materiais locais.Chegada a casa depois da formação, ouço alguém a dizer-me: ”Mana, parece que os ratos desapareceram.” Percebi o porquê mal entrei em casa... um cheiro que não se podia. Tinham posto veneno e os ratos estavam mortos. E o cheiro permanece...















Deixo-vos uma fotografia da minha Melita que cantou uma belíssima música em português (aprendida na nossa Infantil) aos meus pais através do telefone.

terça-feira, 28 de abril de 2009

O que eu gostava

O que eu mais gostava era que:
- pela primeira vez, o taxista soubesse o caminho para o local onde quero ir, em vez de me atrasar para as coisas porque o taxista me levou na direcção contrária. E que em vez de andar a 20km/h, andasse a uma velocidade que me permitisse chegar a horas aos locais
- as pessoas não faltassem aos encontros, depois de eu ter feito vários sacrifícios para estar presente
- as pessoas assumissem as responsabilidades à minha frente e nas minhas costas (é preciso supervisão cerrada, bolas!)
- não me tirassem a roupa do estendal nem me tirassem as molas quando ainda está tudo a secar
Era bom, era...Entretanto... estive em Baucau. De uma forma geral, fiquei desiludida, porque pensava que Baucau era uma cidade grande. É tudo muito diferente. No entanto tem edifícios lindíssimos, embora em ruínas, do tempo dos portugueses.

No ATL, a pedido das crianças, tivemos outra sessão de visionamento de filme, desta vez do Aladino (vejam a fotografia). E finalmente consegui tirar fotografias da placa do ATL (conseguem ver?), mas é claro que me arrisquei...

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Novas experiências

Infelizmente não tenho fotografias recentes, porque deixei a minha máquina fotográfica em Díli e ainda não trouxe para cima.O ponto da situação dos projectos:Em breve teremos o primeiro passeio de turma da Infantil graças à organização IOM que nos forneceu o transporte para levar as crianças a Díli, com um programa completo desde uma exposição de dinossauros no mercado Lama ao passeio na praia com uma banhoca e um almocinho. Que tal? Uma ideia inovadora e ainda aguardamos a autorização dos pais.Entretanto, as nossas educadoras voltaram de duas semanas de formação, todas entusiasmadas para aplicarem o que aprenderem, todas orgulhosas a mostrarem-me o certificado. Foram a alegria das formações e mostraram que a nossa Infantil é a melhor. Eu tornei-me também membro do “conselho” de directoras de Jardim Infantil de Timor-Leste. E tenho já a primeira reunião no dia 16 de Maio.A nossa hortinha está um pouco parada, porque eu não tenho tido tempo para me dedicar mais. Limpei todas as ervas, mas é preciso pôr adubo para se plantar, mas estou à espera que os pais venham para fazer isso. No entanto, tivemos a proposta de uma senhora que nos quer financiar um programa nutricional experimental. Como o Ministério nunca mais nos dava a merenda escolar, fui falar com o World Food Program da UNICEF, porque sei que eles têm um programa fantástico de School Feeding. Mas eles disseram que estão à espera da autorização do Ministério para começarem a fornecer as infantis. Mas vamos começar por tentar preparar um programa que contribua para o desenvolvimento físico e cognitivo das crianças.Ah, os nossos caracóis fugiram (mas já os apanhei) mas comeram parte do abecedário de parede da Infantil (nomeadamente a letra J). Agora tenho de fazer um novo.No ATL passei este domingo o filme O Livro da Selva. Já o tinha passado na Infantil, porque está muito próximo da realidade deles (embora seja diferente). E é engraçado como as reacções são tão diferentes, fico fascinada com o desenvolvimento das diferentes etapas infantis. E que maravilha foi, pela primeira vez, verem como os elefantes se movem, depois de tantas vezes terem visto fotografias. Ah, no ATL foi afixada a tabuleta oficial, à porta da sala, com o nome do ATL “Escola do Amor”, pintada pelas crianças. De resto, tudo normal, mais uma porta que se estragou ou mais um animal que entrou e pôs ovos ou simplesmente fez necessidades lá dentro. Tenho mesmo de ser eu a pôr o cadeado.Com os nossos formadores, tive uma experiência engraçada, porque as duas últimas reuniões que fiz com eles foram em Tétum. E que diferença. Acho que ao final de 3 anos de experiência com eles, finalmente percebi o que sentiam (ou antes, um pouco mais, porque há sempre muito que fica por dizer). De qualquer forma, vamos também inaugurar brevemente a sala de trabalho deles, juntamente com o início dos cursos dados por eles. E também saíram algumas ideias para auto-sustentabilizarmos o Centro de Formação.Em casa, tudo na mesma. As chuvas estão a querer parar o que significa que a ratagem voltou ao ataque e os mosquitos quase que desapareceram. Usei as armadilhas que o meu avô me deu, mas não é que os sacanas dos ratos comeram as migalhas de bolacha e a armadilha não disparou? É que o problema é que eu tenho crias de rato mesmo por cima do meu quarto, por isso aquilo é uma festa à noite.


Deixo-vos apenas uma fotografia de uma cozinha de uma escola primária no Suai.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Conhecer alguém

No outro dia fiquei a saber que há pessoas que entram pela porta principal do BNU (banco) e esperam nas filas intermináveis, enquanto que há aqueles que entram pela porta traseira. Não há nada que se possa fazer aqui se não conhecermos alguém. É sempre importante conhecer alguém. Se não conheceres ninguém, não te safas. E aqui há sempre alguém, que conhece alguém, que por sua vez conhece o primo, o tio... Resumidamente, é o desenrasca. Vejamos:
- se eu não conhecesse alguém, não tinha arranjado uma carrinha para levar as crianças da Infantil no seu primeiro passeio de turma a Díli, para uma exposição de dinossauros
- se eu não conhecesse alguém, não tinha conseguido uma reunião com o Vice-Ministro da Educação
- se eu não conhecesse alguém, não tinha conseguido marcar uma acção de formação para as educadoras da Infantil
- se eu não conhecesse alguém, não tinha conseguido materiais didácticos em tétum para as crianças da Infantil e ATL
- se eu não conhecesse alguém, não tinha brinquedos para a Infantil
- se eu não conhecesse alguém, não tinha arranjado uma bicicleta
- se eu não conhecesse alguém, não tinha conseguido arranjar algumas traduções para fazer enquanto cá estou
- se eu não conhecesse alguém...
E-mails, cartas ou pedidos de reuniões não servem para grande coisa. Ou conheces alguém, ou és integrado numa lista interminável de assuntos secundários. Mas quando conheces alguém, tornas-te logo num assunto prioritário.

Entretanto também vos queria mostrar esta fotografia de uma igreja que visitei no Suai e que deve ser a igreja mais impressionante que vi... vejam o tecto... não tem portas nem paredes... mesmo assim, não há roubos, está tudo lá. A luz, o vento... É uma igreja provisória que a comunidade construiu quando a matriz foi incendiada.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Nora de Timor


A Infantil e o ATL entraram em férias de Páscoa. E eu fui até ao Suai, mais propriamente ao suco de Lepo em Covalima. Há imensas aventuras. No entanto, resolvi ocultar alguns Kinder Supresa e limitar-me apenas a contar o decorrer de uma cerimónia tradicional. Vou-vos começar aliás pela noite do dia antes.
Chegámos a Lepo eram 22h, após uma viagem de 10 horas de estradas sinuosas e esburacadas. No dia seguinte, a população iria colocar os primeiros pilares de uma casa que servirá como centro de mediação (espécie de tribunal local). Quando cheguei, os anciãos (chefes de aldeia, chefes de suco, príncipes, representantes das famílias mais importantes) estavam reunidos na sede do suco. Discutiam sobre como iriam fazer a cerimónia no dia seguinte. A questão da mediação é um assunto essencial no que toca a timorenses, uma vez que ocorrem frequentemente conflitos por motivos familiares, propriedades, etc.. Discutiam e não discutiam. Eu estava mesmo cansada. Mais uma vez, em Timor são tempos diferentes, são tempos livres diferentes, são discussões diferentes. Apontaram-me o quarto (na sede do suco), que consistia numa armação de cama, com tábuas por cima (tipo estrado). Não havia colchão, não havia lençóis, não havia almofada. Apenas uma tábua de madeira, onde deveriam dormir 5 pessoas. Pus-me lá no grupo, continuando a ouvir as vozes a discutir, mas às 5h decidi levantar-me porque não aguentava mais das costas. A cerimónia deveria começar às 8h, mas começou às 10.30h (e também porque não tinha ficado tudo decidido na noite anterior, o que se verificou durante a cerimónia em que ainda estavam decidir o que iria acontecer no momento). A cerimónia começou com uma roda composta pelos representantes das famílias mais importantes e por liurais (príncipes). Nessa roda começou-se por pôr no centro o machado, catana e os ingredientes da mama (aquela coisa que eles mascam). Começaram por falar com os espíritos para ver se autorizavam que fossem todos para a floresta buscar os pilares em madeira. Os espíritos autorizaram. Penso que depois se passaram os ingredientes da mama para que todos mascassem. Pegaram então numa galinha porque tinham de “aquecer” o machado e a catana. Esganaram então a galinha e quando morreu, cortaram-lhe a goela, derramaram o sangue para que o sangue dela “aquecesse” o machado e a catana. Depois tiraram-lhe as vísceras, porque nas vísceras havia um sinal que indicava se os espíritos concordavam com a partida para a floresta e se haveria sucessos ou desgraças. Nas vísceras estava o sinal, uma pontinha saliente que indicava para o céu. Era este o sinal: se estivesse virada para baixo, significava que a viagem não iria correr bem. Chegou a altura de beber o vinho que foi passado de mão em mão entre os anciãos. A última pessoa a beber do copo teria de carregar o machado e a catana. Decidido esse aspecto partimos todos em procissão até ao local onde estavam as madeiras. Ali mandaram-me entrar numa daquelas tendas de venda e vestiram-me: um tais para baixo, a cabala para cima, colares, brincos e até no cabelo fizeram-me os tradicionais puxos com os ganhos de moedas. Depois mandaram-nos para o meio dos pilares e deram-nos a mama para mascar. A partir daí fui à frente da marcha, de regresso ao local da construção. À minha frente ia o homem do bombo, juntamente com o chefe que carregava o machado e catana. Atrás iam os homens que carregavam os pilares, estando ligados às mulheres através de uma corda. As mulheres “puxavam” os homens. O trajecto era de cerca de 7 minutos e, mesmo assim, fizemos 2 pausas. Não pelo cansaço, porque a cada pausa eram realizadas danças. Na 1.ª pausa aproveitei para cuspir discretamente a mama, porque já não aguentava aquele sabor azedo na boca. Ao final da 2.ª pausa, pediram-nos para comprar duas garrafas de vinho e dois maços de tabaco. A nós juntou-se uma cabra que iria servir de sacrifício, e ao longe já víamos o cão e o porco. Tivemos de tocar na cabra para abençoá-la. Continuámos até o local da construção. Aí deram-nos novamente a mama e com o cuspe tive de abençoar os pilares. Houve uma espécie de cerimónia com a mama antes de nos ser servida (dança, entrega ao liurai, etc.). Eram 14h, sob um sol ardente e já não aguentávamos. Deram-nos descanso de almoço. Mas de facto estávamo-nos a sentir mal, quase com uma insolação e tínhamos de voltar para Díli. O almoço foi arroz com a galinha esganada. Comecei a negociar, porque tínhamos mesmo de ir embora. Lá concordaram em apressar a parte em que de facto era necessária a nossa presença. Quando regressámos ao local da construção, vi o cão, morto, com um rasgo no pescoço e uma pedra toda ensanguentada ao lado. No espaço do terreno de construção, mataram o porco e tiraram-lhe o sangue para um copo. Depois foram buscar a cabra e também a mataram, passando também o sangue para um copo. A partir daqui não percebi muito bem, mas com o sangue dos dois animais decidiram que um lado da casa seria o lado “mulher” e o outro “homem”. Depois disso, deixaram-nos partir, continuando eles a festa. Haverá outra cerimónia, mas desta vez com um búfalo, aquando da inauguração da casa.
Para além da magnífica experiência (extremamente cansativa porque eu estava como intérprete, e foram muitas horas), ficaram as marcas de um dia de sol (apesar de ter posto protector).
Com isto tornei-me também "feto foun" (nora) de Timor, de acordo com a população que me saudou imenso pelo grande amor que aquela comunidade tem pelos portugueses.