Há uns tempos atrás ouvi um amigo meu em Dili que dizia: “Isto aqui é tudo um Kinder.” E depois pus-me a pensar em todas as minhas aventuras e percebi que de facto o melhor é ter aquela sensação de que vamos abrir um ovo Kinder e nunca sabemos o que está lá dentro, apesar de na embalagem mencionar, por exemplo, o Snoopy. Desde a situação em que se pede uma torrada e vem-nos um bitoque, às voltas que o Centro de Educação me faz dar. Desde o trancarmos a porta de casa à chave (sinal de que ninguém pode entrar) e depois chegarmos e estar tudo aberto, porque alguém precisava de um lápis. Tudo, de facto, é um Kinder Surpresa ... poderia enumerar-vos inúmeras situações. Mas o chocolate é sempre doce... ou seja, adoro isto.
No ano passado eu queixei-me a uma das manas cá em casa que as galinhas andavam a comer as couves da horta do Jardim Infantil. E estava eu à espera que ela me dissesse: “Pois, é preciso consertar a capoeira.” Em vez disso, respondeu-me: “Pois, mana, é por isso que é melhor não plantar couves.” A questão era resolvida desta maneira: não plantar couves. Kinder!
No ano passado eu queixei-me a uma das manas cá em casa que as galinhas andavam a comer as couves da horta do Jardim Infantil. E estava eu à espera que ela me dissesse: “Pois, é preciso consertar a capoeira.” Em vez disso, respondeu-me: “Pois, mana, é por isso que é melhor não plantar couves.” A questão era resolvida desta maneira: não plantar couves. Kinder!Há um tempo atrás os porcos das manas fugiram e andaram nas hortas. Inclusivé estragaram a cerca da horta da Infantil (sabem, aquela famosa cerca construída de urgência após o incidente com as cabras). A solução também me parece que não era trancar as portas do curral, mas sim não construir cercas.Na segunda cheguei de Díli e... Kinder Surpresa: não havia luz.Esta semana estou sozinha na Infantil, porque as educadoras foram para formação em Díli. Os momentos mais altos foram definitivamente o momento em que eu contei que o coelhinho da Páscoa tinha escondido doces na horta e era ver a cara dos miúdos à procura deles, seguido do momento em que as crianças quiseram escrever ao coelhinho da Páscoa a agradecer os doces, seguido do terceiro momento que foi toda a sexta-feira de aulas. Neste dia vieram apenas 4 crianças (era dia de procissão) e decidi passar um filme e acabei por escolher um filme que eu achava que podia não lhes agradar: o Livro da Selva. Mas não. E depois apercebi-me de todas as semelhanças com as nossas crianças. E finalmente conseguiram ver elefantes a mexerem-se. Tinha planeado para este dia fazer a Última Ceia na capela aqui da comunidade. Preparei uma mesa, umas cadeirinhas, uma bacia com água, a toalha e o pão. Fiz uma introdução em que tivemos a ver algumas imagens de Jesus crucificado e a perceber quem estava na cruz. Depois expliquei que antes de morrer, Jesus quis tomar a última refeição com os amigos e que antes de isso lhes lavou os pés (fui-me apercebendo que com estas idades é necessário medir bem as palavras, porque eles não compreendem, por ex. “Como é isso de beber o sangue de Jesus?”). Deu-se o Lava-pés em que cada um deixou de se rir, de se mexer, tão estupefactos estavam. Depois fomos para a mesa e expliquei a partilha do pão. Dividimos o pão entre nós e rezamos um Pai-Nosso. Voltamos para a sala e fizemos umas cruzes em que colamos papel por cima (ver a foto, a primeira). Afixámos na parede da capela (ver foto, a segunda, do lado direito). Quando chegou o meio-dia, todos saíram a correr (um queria dormir na escola) e vi-os todos a dirigirem-se à horta e a vasculharem as plantas. Percebi que andavam a ver se o Coelhinho da Páscoa tinha, por acaso, deixado mais doces. Mágico! Depois ao longo do dia fui-me apercebendo de uma certa atitude por parte de uma criança em especial. Como sabem, esta turma (a dos mais velhos) tem uma criança portadora de deficiência, o Vicente. Não conseguimos ainda identificar exactamente a sua deficiência a nível mental (há algumas coisas que vai fazendo, fala um pouco mas também imperceptível) e tem uma grande descoordenação motora (começou a andar aos 5 anos, neste momento tem 8). Normalmente estes casos são bastante marginalizados, principalmente aqui, em que ainda há muitas crenças, mas o Vicente tem-se dado bastante bem na escola e as crianças parecem tê-lo aceite. Hoje eu chamei todas as crianças para entrarem na sala e o Jezuinho veio logo a correr, o primeiro, mas parou a meio do caminho, olhou para trás e foi buscar o Vicente pondo o seu braço à volta dos braços do Vicente. Depois eu dei um rebuçado a cada um, e o Jezuinho apressou-se logo a pegar no rebuçado do Vicente (pensei eu que era para comê-lo e já me estava a preparar para dizer qualquer coisa) e a desembrulhá-lo, pondo-o depois na boca do Vicente. E aquilo deixou-me... Kinder! A forma como naturalmente as crianças aprendem o valor da irmandade, sem ser necessário dizer alguma coisa. Num gesto tão bonito... Isto é que é uma escola de vida. Quais pedagogias....
Força miúda.
ResponderEliminarTenho muito orgulho em ti.
Obrigada por partilhares essa tua vida connosco.
beijos
Elsa
Cla,
ResponderEliminarKinder :)
Que gesto, que carinho o do Jesuinho!
Que grandes coisas aí fazes, perto das pessoas, para crescerem!
Boa Páscoa!
Abraço forte!
Su