quinta-feira, 30 de julho de 2009

A dois dias do fim


Os dias correm e estamos a 2 dias da festa de finalistas. Tem sido uma correria... boletins de notas, preparar as pastas com os desenhos, preparar as roupas para a festa, ensaiar pela milésima vez a dança em que eu digo: "Agora vamos todos para o lado esquerdo.” E alguns vão para a direita. “Agora para a frente.” E alguns vão para trás. “Agora já não quero ser o sol.” “Agora já não quero casar com o sol.” Ai, ai. Que dose de paciência, mas tão doce! Estivemos a fazer as prendas para dar as professoras, aqui vai uma foto para verem como ficou bonito: cada criança marcou o seu dedo na moldura, e os retoques fui eu... adivinhem com o quê? Feltro, claro.

Esta semana cantamos os parabéns à professora Mafalda que fazia anos. E temos o costume “alemão” (dos meus tempos no Colégio de Alemão) de levantarmos o aniversariante na cadeira o número de vezes consoante a idade. Então perguntei: “Quantos anos acham que ela tem?” “17 anos” Outro: “125 anos”. A D. Mafalda faz 45.
Também convidámos o administrador do distrito a participar na nossa festa este sábado, uma vez que ficou encantado com elas quando foram cantar à administração. Hoje o administrador veio lá em casa. Andava preocupado, queria dar um presente às crianças e não sabia o quê. Mais um ponto para As Sementinhas. Eu, claro, no papel de professora disse: “Pode ser um livro.” Ao que ele respondeu: “Pode ser uns refrigerantes?” Eu ia dizer o quê????
A sala está cada vez mais vazia à medida que se tiram os desenhos da parede. Ao mesmo tempo, penso que passou o primeiro ano e sobrevivemos apesar de todas as dificuldades. E sinto orgulho.
O ATL vai também de férias e este próximo domingo teremos a “Pequena Sereia” de manhã e à tarde num piquenique na montanha, no qual não estarei presente, porque estarei no aeroporto de Díli à espera dos novos Gasómetros (4 voluntários do G.A.S.Porto) que irão para Tíbar para uma missão de dois meses. E eu, vou um mês e meio de férias a Portugal (a riscar os dias) nesta próxima terça, com data de regresso já marcada para 20 de Setembro. Por isso, em breve estarei ao vivo e a cores para mostrar que de facto é real.
Ah, financiadores continuam a precisar-se! Até porque já estou a fazer novos jogos para a nova sala da Infantil, e continuo a sonhar que em Janeiro teremos, sim, uma grande escola!!

Os meus amigos “Mickey” continuam por cá, gostam aqui do ambiente. Matamos seis na semana passada, mas isso não assustou os irmãos. No outro dia, encontrei um ratito dentro do meu quarto. Descobri que ele entrava por uma frincha minúscula que tenho entre a nova protecção da porta em caixa de CDs e o espaço por onde passa o cabo da extensão (não tenho instalação eléctrica no quarto). Agora tenho, para além dos CDs, do cabo e da esponja, mais uns quantos lápis enfiados na frincha por onde ele poderia voltar a entrar. No entanto, hoje acordei às 6 com um grande a bater-me à porta. Conseguiu roer um pedaço da fita isoladora que tinha na porta. E esta semana encontrei um escorpião no meu quarto, mas ele andava meio zonzo devido ao produto que pus no meu quarto. No entanto, todo o cuidado é pouco.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Nem todos os dias sao dias de sol

Os exames continuam, como vêem na fotografia. E a média de crianças a faltar durante este período continua.
A Domingas já faltava há uma semana. Uma das professoras foi a casa dela ver o que se passava. A mãe explicou que a Domingas só vai à escola se a mãe lhe der dinheiro. Mas a mãe decidiu esta semana não lhe dar... e a Domingas não veio à escola... A Domingas é apenas um exemplo, mas isto acontece com a maioria das crianças...

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Novas mafarriquices

Ainda escrevi anteontem, mas aconteceu tanta coisa em dois dias.
Começámos os “exames” orais das crianças. E é engraçado que mandámos um aviso aos pais para mandarem os filhos, especialmente esta semana, à escola (o que também não faz muito sentido, porque partimos sempre do princípio que as crianças vêm todos os dias à escola, o que não é o caso em Timor). E o mais engraçado é que precisamente nesta semana têm-nos faltado cerca de 10 crianças por dia (e sempre as mesmas).
O Tiago e a Vânia são os casos mais difíceis. Não podemos fazer mais por eles. Simplesmente o seu cérebro não se desenvolveu quando devia... São dois casos, cuja intervenção deveria ter começado logo à nascença. São problemas essencialmente de malnutrição. Quando eu pensava que a Infantil podia “salvar” todas as crianças, afinal não podia. A malnutrição... a todos os níveis. Mulheres com tuberculose que, mesmo tomando os medicamentos, nunca recuperam devido à alimentação que têm. Perdem as forças com a doença e também não podem trabalhar no campo, atenuando ainda mais a situação de carência alimentar. Mulheres malnutridas que não podem tomar a vacina contraceptiva, porque as menstruações são irregulares devido à malnutrição. A natalidade sobe e a fome também. Mas também é porque não sabem. Lembram-se da Maria bebé que mora aqui connosco. A bebé é mesmo gordinha, porque enchem-na e enchem-na de arroz. Não come fruta, poucos legumes. Numa terra tão rica em recursos... Já expliquei, mas continua a comer a mesma coisa.
Graças à Isabel em Díli, as crianças da Infantil recebem, todos os dias, uma tigela de arroz com pó nutricional. Se virem a pôr o pó, já não querem; se não virem, aquela merenda é uma coisa nutricional. Dizem que querem ficar forte como os portugueses e inteligentes como o Avô Xanana, e comem tudo. No entanto, o arroz desaparece e não é do ratito que ontem encontrei a sair de dentro do saco. Às vezes entro na cozinha e estão as estudantes a comer o mesmo que as crianças. Já sabia que iria acontecer, mas não posso fazer nada para que não aconteça.

Ontem houve outro incêndio, tal como no ano passado, mas desta vez foi do lado esquerdo da nossa casa, uma montanha deserta do nosso lado e com cafezais e casas tradicionais do outro. Quando me apercebi do fogo, ainda estava do início. Perguntei às manas se não devíamos ligar aos bombeiros e recebo como resposta: “Não, que eles ainda nos acusam de termos posto o fogo.” Liguei de imediato e pedi a uma estudante para falar com eles e ela, acanhada, nem abre a boca e diz-me para esperar. Pego no telefone e falo. Fui até à base ver se estava lá alguém a pôr fogo, mas não estava. Dizem que vêm logo, e por acaso vieram... de mota e com dois extintores. É claro que eu lhes perguntei se eles achavam que eu estava a brincar quando disse que a montanha estava a arder. Os extintores nem saíram das motas, e os quatro lá começaram. Estava muito vento e, em pouco tempo, a frente já tinha passado para o outro lado da montanha. Agora, temos uma montanha preta, mas ninguém se importou na altura, nem importa. É igual. Para muitos, é um terreno que agora pode ser plantado.
De resto, o normal. Um frio de morrer cá em cima, a casa sempre cheia de pessoal (acho que já vamos em 60), a água que não há... E mando mais algumas fotografias: a primeira com a D.Mafalda a dar aulas com os óculos dos miúdos, outra a Carlota e a Eliana que vão, segundo elas, a uma festa (reparem nos sapatos), outra com o Frederico a cozinhar e as meninas a descansar numa casa montada por elas.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Sessao de cinema

Anteontem tivemos a primeira sessão de cinema depois da missa. Ainda não foi a Rua Sésamo, porque ainda não tenho os DVDs, mas foi a “Fuga das Galinhas” e as 40 crianças presentes adoraram. Como começámos um pouco mais tarde do que o esperado, e como a luz acabava às 12h, fomos interrompidos. Mas as crianças voltaram ao final da tarde para ver o resto.
Presentes estavam algumas crianças da Infantil e ATL com os respectivos pais e ainda outras crianças pertencentes à comunidade de Aileu. Daqui a 2 semanas será a segunda sessão, ainda escolher entre "A vida das formigas" e "Pocahontas".

A chegar ao fim do ano lectivo

É engraçado como tudo aqui tem de ser adaptado à altura do ano. Pela quarta ou quinta vez tivemos de mudar o horário. E porquê?
- Primeiro, não podíamos dar aulas da parte da tarde durante a época das chuvas, porque chove sempre à tarde
- Segundo, 9 horas era demasiado tarde (de acordo com as opiniões locais), e mudámos para as 8.30.
- Terceiro, pusemos uma turma a começar às 8.30 e outra às 10. Mas como não há relógios, todas vinham ao mesmo tempo e era uma grande confusão, por isso tivemos de pôr as duas turmas à mesma hora.
- Agora que chegou o tempo seco, o primeiro mês e meio é um frio desgraçado. Entre as 19h e as 8.30h é um frio que não se aguenta (coincidindo com o pôr e nascer do sol). E é claro que para as crianças é muito doloroso tomar banho com aquele frio para estarem na escola pouco antes das 8.30h. Por isso, tivemos de mudar novamente o horário para as 9h.
Resumidamente, agora temos um horário para o tempo das chuvas e outro para o tempo da seca... e já gastei cartolinas que eu sei lá, para fazer os horários.
Ainda se fala do passeio a Díli, e as crianças quiseram fazer um livro e aqui vai uma das páginas, pintada e escrita pelo Flávio.




A escola está a chegar ao fim. Os exames estão à porta, já começam na próxima semana. Em três semanas faremos a festa de “finalistas”. Começámos já os preparativos: teremos dois teatros, dança, poesia e canções. Da minha parte, já estou a preparar as fatiotas e as ofertas para os finalistas. A 2.ª infantil vai apresentar um teatro sobre a saúde dentária, em que uns podem ser o ”dente bom”, outros uma cenoura, outros um tomate, outros o “dente mau”. Os da 1.ª infantil estão meios contrariados, principalmente os dois protagonistas. A história é sobre o Sol e a Lua que se casam e têm muitos filhinhos que são as estrelas. Agora, é claro que o Sol e a Lua estão bastante contrariados, porque acham que vão ser gozados por todos. Aliás, vejam a primeira foto: conseguem descobrir os protagonistas? É que vê-se logo (são os dois da frente).
Na semana passada tive uma reunião daquela rede restrita a 12 infantis de directores de Jardim Infantil em Timor-Leste. Parece-me que me coube a mim de na próxima reunião ensinar a fazer fantoches em feltro. Penso que em Outubro já teremos as nossas professoras em formação.
O ATL também irá de férias brevemente. Faremos um piquenique no cimo da montanha. Mas como a escola para o próximo ano lectivo só começa em Janeiro, estamos a pensar continuar as duas escolas (em part-time) a partir de Outubro.
Outras novidades: Só as do costume... os ratos! Apanhei um enorme mesmo a passar à frente da porta do meu quarto. Tive que fazer uma limpeza ao armário da sala e deitar muita coisa fora porque estava cheia de porcaria de ratos. Eu tinha comprado um armário em Díli com porta... tinha, mas um Kinder: o vendedor vendeu a outro quando o ia buscar. Por isso, neste momento, estou à espera de um orçamento para pôr umas janelas no armário cá de casa.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Bons Kinders

(acho que toda a gente deve saber menos eu. Mas caso haja alguém que não saiba que se clicar nas fotos duas vezes elas são mostradas no tamanho original, aqui fica a indicação)
Acho que não contei a história da cobra em tecido com areia dentro, para tapar a fenda entre a porta e o chão do meu quarto. Pois é, a cobra morreu.... roída. Por quem? Ora adivinhem lá? Agora tenho capas de CD, fita isoladora e espuma... vamos ver até quando isto dura.
Esta noite estive com a Melita a fazer contas (que anda na nossa infantil). “Ó professora, como se escreve EMA?” E eu: “Ora pensa lá. E-M-A." “Ah, já sei.” E lá escreveu. E eu a pensar que de facto tenho a melhor infantil.
Os nossos meninos da infantil foram convidados a fazer a sessão de abertura de um Mini Mundo Perdido que veio para Aileu. Que delícia! Foram o encanto de todos. O próprio administrador disse que tinham a melhor pronúncia portuguesa, e já foram convidados para outra coisa qualquer. Estavam todos contentes, até porque, segundo eles, comeram carne. E este foi o ponto mais importante. Disseram até que não se importavam de ir cantar outra vez para comerem bem. Lá vestiram o seu uniforme, olhem só para eles! Levavam o programa de cantar “Escola G.A.S.Porto”, “Tic Tac”, “Cabelo, cabeça...” e ainda fizeram um discurso de boas-vindas. E melhor... nunca foram tão bem comportados como neste dia.
No ATL tivemos a pintar paredes... Sim, aquela parede era mesmo feia... e eles passaram uma tarde bem agradável a pô-la bonita. Vamos ver se conseguimos dar a estes meninos um espaço mais agradável daqui a algum tempo.

E para finalizar... uma aventura. Lá vinha eu hoje de manhã, a caminho de Díli, na angguna, literalmente no meio das couves (à segunda os agricultores vêm para Díli vender os produtos), um gelo que não se podia, sem espaço para mexer um dedo mindinho, as costas doridas de bater contra os ferros ao passar nos buracos, o habitual (nenhuma angguna parte sem estar verdadeiramente cheia). Como já não havia espaço para as couves dentro da angguna decidiram pendurar as restantes da parte de fora do carro. O senhor que estava ao meu lado (é que fico sempre sentada ao lado dos mesmos) começa a vomitar, mas para o lado da estrada, onde estavam as couves. Ou seja, acho que não preciso de explicar o que aconteceu às couves. Quando a viagem acabou, pegaram num raminho de folhas secas para limpar e assim foram postas no mercado à venda.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Financiadores precisam-se

Mais um Kinder. Reparei que no nosso centro de estudos faltava uma lâmpada exterior. E eu, preocupada, virei-me para uma das manas e disse: "Mana, acho que nos andam a roubar lâmpadas." Ela, também preocupada, vem comigo ver. Depois diz-me: "Ah, mana, nós quando nos falha uma lâmpada lá em casa, vimos cá buscar ao centro." É que eu já nem sei porque é que me espanto, é que não sei mesmo... O problema é que eu também uso aquele espaço.

Alguém tem DVD da Rua Sésamo em português? É que ando cá com uma ideia de fazer visionamento de DVD educativos aos domingos de manhã (há luz até às 12h). E já agora, há alguém que tenha um leitor de DVD que não precise? (tínhamos um lá em casa, mas também foram tiradas peças para fazer não sei o quê).

Ando a projectar também a reabilitação do espaço do ATL (que está muito estragado) e dividi-lo em dois, fazendo uma segunda sala para a Infantil (urgente!) e outra para o ATL. Para além de chover lá dentro, há o problema das galinhas que põem lá ovos, dos ratos que vão lá morrer, dos cães que fazem necessidades...

Financiadores precisam-se!